quinta-feira, julho 03, 2003

Caso Verdade

25 anos – O Coco Rachado

A crítica não gostou. Você não pediu. Mas ele voltou: Caso Verdade. A série que não abalou a opinião pública americana.

Houve um período na minha vida em que eu estava fissurado em beisebol. Assistia a todos os filmes que fizessem referência (Campo dos Sonhos, Crazy Thing, Se Ficar o Bicho Morde, The Natural - onde o Robert Reford faz um bastão com a madeira de uma árvore que foi atingida por um raio- e muitos outros). Procurava acompanhar o jogos na ESPN e também fui assistir pessoalmente alguns jogos em Cotia, no Bom Retiro e no Nikkei de Santo Amaro. Até comprei bastão e luvas. Enfim, me tornei um verdadeiro fã do esporte. Só faltava mesmo jogar.

Mas finalmente aconteceu. O Milton, meu chefe na época, como bom japonês que é, havia jogado na infância (ao contrário de um outro japonês paraguaio que atende pela alcunha de r3x, que na infância não jogou beisebol e nem fez judô...mas pelo menos hoje em dia temos um ótimo levantador, né?) e começou a ficar animado com tanto papo de beisebol (o r3x também estava nessa, é novas). O Milton descobriu que próximo ao seu prédio, havia um pequeno campo onde um clube treinava. Ele se infiltrou e consegui uma permissão para irmos lá fazer um “catoboro” (arremesso e defesa) uma vez por semana.

Apesar de me sentir um pouco estranho sendo o único caucasiano (gaijin) de todo o clube, estava feliz da vida por estar tendo algum contato com o esporte. O problema é que treinávamos das sete às dez da noite. E o Milton, educadamente, sempre insistia para que passássemos na casa dele para jantar. Só que eu voltava de metrô prá casa, então sempre ficava meio tarde.

Numa noite dessas, depois da carona até a estação São Judas, aconteceu um fato, no mínimo tragi-cômico: desci correndo (como sempre) a escada de acesso à estação, sem notar que o portão já estava um pouco abaixado.

Pausa dramática.

Foi uma cabeçada daquelas. Posso garantir a vocês que o material do portão do metrô é de muito boa qualidade, viu? Resiste bem aos impactos...

Lembro de ir andando em direção às catracas, um pouco tonto, sentindo dor e então, comecei a sentir meu cabelo molhado. Coloquei a mão na cabeça. Era sangue. Muito sangue. E começava a pingar no chão.

Não sabia direito o que fazer...resolvi chamar um funcionário do Metrô e perguntar se eles tinham enfermaria na estação. Quando o cara viu, ficou mais assustado que eu. Me levou para uma salinha. Chamou outros funcionários e uma mulher me disse que eu precisaria ir até um hospital para costurar...

Ela chamou uma ambulância do próprio Metrô, que na época era uma perua Ipanema (que por sinal, bem apertada para essa finalidade). Quando a ambulância chegou, eu já fui indo sentar na frente ao lado do motorista, quando ele me disse:
_Não pode não, moço. O senhor tem que ir na maca lá trás.
_Mas não tem necessidade, eu disse. Eu tô bem...
_É, mas não pode mesmo. É contra a lei, ele disse.

Lei? Que diacho de lei é essa? Bastard...Bom, o fato é que numa quarta-feira de 1995, por volta de meia-noite, eu estava passeando de ambulância (com sirene ligada e tudo - pelo menos isso...), tentando segurar um chumaço de gaze na cabeça com uma mão e me segurar em cima da maca com a outra...que situação mais ridícula...

Então, não sei bem porquê, comecei a rir...ficava pensando naquilo e ria mais ainda. Fiquei até com cãimbras na barriga. O motorista da ambulância deve ter pensado que a pancada na cabeça foi forte mesmo...

Cheguei no PS Jabaquara. Aí acabou a graça. Na verdade, tudo ficou bem deprê. Pessoas largadas no corredor, pessoas gemendo sem atendimento, feridos de bala chegando, hospital meio escuro, meio caindo aos pedaços...quanto sofrimento. Não para mim, mas para quem só tem esse tipo de opção na hora da doença.

Mas até que fui bem atendido. Tive um pedação do cabelo rapado. Ganhei uns pontos, uma antitetânica bem doída e uma bandagem que cobria a cabeça toda. Cheguei em casa mais de duas da manhã. Lembro que quando minha mãe viu o tamanho da bandagem ficou bem assustada.

Mas como vocês já sabem, ela tem bastante experiência no assunto. Só estava um pouco destreinada...