quinta-feira, outubro 02, 2003

O sentimento xarope
Eu e Alex-J já identificamos em nós aquilo que convencionamos chamar de o "sentimento xarope". E o que seria então o "sentimento xarope"? Vou tentar exemplificar com uma historinha...

Quando eu tinha 7 anos, percebi pela primeira vez na vida a beleza feminina. Ela estava lá no pátio, esperando em fila como todos nós... como era uma das mais altas da sua turma, era também, uma das últimas da fila. Mas ela tinha um olhar diferente... longínquo... como se não percebesse toda a algazarra das outras crianças ao redor. Ela se chamava Magda e foi o primeiro indício de paixão de que posso me lembrar.

O primeiro ano da escola a gente nunca esquece. Nesse tempo, quando batia o sinal, tínhamos que fazer uma formação em fila de dois a dois no pátio para depois seguir para a sala de aula. Às vezes, nesse momento da formação, o barulho era tanto que a diretora em pessoa (uma senhora gorda de olhar altivo e voz poderosa) batia uma sineta e dava uma bronca coletiva prá conseguir o silêncio. A sineta era, essa sim, um verdadeiro sinal de perigo. Era algo amedrontador. No mais, os intervalos eram sempre iguais... merenda, correria, brincadeiras, bafo... Aí batia o sinal, fila e... Magda, que eu podia ver a três filas de distância. Ela não me conhecia, na verdade, jamais cheguei a dirigir-lhe uma única palavra e sendo bastante sincero, não sei até quando durou essa paixão platônica.

Tá, mas o que isso tem a ver com o "sentimento xarope"? O "sentimento xarope" é justamente isso: conheci essa garota aos 7 anos de idade, jamais falei com ela, mas nutro ainda um sentimento afetuoso. Se a encontrasse hoje com certeza a reconheceria e seria capaz de lhe dirigir o mesmo sorriso de 25 anos atrás. E ela jamais saberia porquê.