quinta-feira, julho 24, 2003

Uma breve história do tempo
Já discorremos sobre o tema outras vezes, mas hoje vou me utilizar de uma pequena fábula...

Dois senhores pegavam o ônibus para o trabalho todos os dias no mesmo ponto, às 7h15. Embora o ônibus fosse quase sempre pontual, às vezes o horário oscilava entre 3 minutos para mais ou para menos. Por via das dúvidas, o sr. Alberto chegava sempre às 7h05 e esperava cerca de 10 minutos. Já o sr. Benedito chegava sempre em cima da hora, poucos segundos antes de o ônibus parar no ponto. Às vezes, uma pequena corrida era até necessária. Mas, uma vez no ônibus, atrasados ou adiantados, já não importava mais, tornavam-se todos passageiros.

O sr. A., no entanto, não conseguia deixar de refletir: "O sr. B. controla muito melhor o seu tempo do que eu. Ele não precisa perder 10 minutos todos os dias esperando o ônibus." E começou a conjecturar sobre o que poderia fazer com 10 minutos a mais todas as manhãs:
1 - poderia passar 10 minutos a mais abraçando sua esposa antes de acordar.
2 - poderia dar aquela caprichada na barba, que nem sempre era bem feita.
3 - poderia dar uma passada nas manchetes dos jornais enquanto sorvia um rápido café.

Além disso, ele calculou que 10 minutos todas as manhãs significavam 50 minutos por semana, 3 horas e 20 minutos por mês, 40 horas por ano(!) perdidas esperando o ônibus...
Para a manhã seguinte, decidiu: não ia mais perder esse tempo, iria sair de casa 10 minutos mais tarde.
Tocou o rádio-relógio, mas ao invés de dar um beijo na esposa e levantar correndo, abraçou-a como se fosse dormir um pouco mais.
- O que é isso? Acorda, Alberto! Você vai chegar atrasado!
Sentindo o clima cortado, levantou-se e foi ao banheiro. Espumou abundamente o rosto para barbear-se, mas olhando de esguelha para o relógio a fim de controlar o horário, arranhou de leve a pele com a lâmina.
Sentindo o rosto cortado, vestiu-se e foi para a cozinha. Apanhou o jornal, começou a ler as manchetes, mas descobriu que o caderno de esportes estava faltando.
Sentindo a sua leitura cortada, resolveu sair. Olhou para o relógio, já estava 2 minutos além do previsto, começou a ficar desesperado. O elevador, que sempre vinha tranquilo, hoje resolveu quebrar e ele teve que descer cinco andares de escada. Perdeu mais alguns minutos. Na esquina, o trânsito quase sempre tranquilo, hoje estava furioso e não o deixava atravessar a rua. Ao cruzar a praça para chegar ao ponto, teve que enfrentar no contra-fluxo uma multidão de velhinhos da comunidade japonesa, todos de branco para a ginástica matinal. A 50 metros do ponto, avistou o ônibus que freava. Seu coração, já acelerado, tinha agora que bombear o sangue para as pernas. Começou a correr desesperadamente, o braço levantando a pasta, as pombas levantando vôo assustadas. Na porta do ônibus, esperava-o o sr. B. com um sorriso. Entraram. Uma vez no ônibus, atrasados ou adiantados, eram todos passageiros.
Após recuperar o fôlego, comentou com o sr. B.:
- Perdi a hora. Que desespero, parece que tudo lutava para que eu não chegasse!
E o sr. B.:
- Eu passo por isso todos os dias. Por isso, de agora em diante, resolvi sair de casa 10 minutos mais cedo.

Moral da história: ah, sei lá. Você decide. Manda aí no comments, tá?