quinta-feira, janeiro 29, 2004

As aventuras de Johny X - Cap I
Desde muito cedo João Xavier resolveu mudar de nome. “Além de sem-graça, esse nome parece de algum personagem da história nacional”. Alguns amigos já o chamavam de Johny e ele achava que tinha mais a ver.

_Parabéns, João. Bem-vindo ao clube Harley Davidson. Sua moto será entregue em dez dias.

Ele não se incomodou em desembolsar mais de sessenta mil reais pela moto. Ouvir seu próprio nome o incomodava muito mais.
Na corretora de valores onde trabalhava, poucos sabiam seu verdadeiro nome. “Nome é uma coisa muito importante para que outras pessoas escolham pela gente, mesmo se essas pessoas forem nossos pais” pensava com seus botões. E ia além: “Deveria haver uma lei que determinasse que as pessoas a partir de uma certa idade poderiam adotar um outro nome diferente do nome de batismo.” A vaidade encontrava terreno amplo e fértil naquele paulistano de 35 anos, bem sucedido profissionalmente, solteiro (“liberdade é tudo”) e regido pelo signo de Sagitário (“liberdade é tudo”).

Morava em um apartamento modernoso - na verdade, um Loft - na região de Perdizes - perto das baladas da Vila Madalena e perto do Palmeiras. Naquele apê espaçoso para só uma pessoa, artigos caros eram fartamente encontrados: eletro-eletrônicos de última geração assinados pela dinamarquesa Bang & Olufsen, quadros de pintores renomados, sofás importados da Bélgica, tapetes iranianos. Quem entrasse no apartamento saberia que ali vive alguém sofisticado. E que gostava de deixar isso bem claro.

Naquela segunda-feira quando saiu de casa, gel no cabelo, rumo ao trabalho na Faria Lima, pensou: “Esta é a última semana de congestionamento. Mais alguns dias, eu pego a Harley e tudo vai ser diferente.” E já contabilizava o tempo que ganharia com o novo transporte e de que maneira o aproveitaria.

Mas na vida, as coisas nem sempre caminham como planejamos. Muitas vezes, determinadas coisas simplesmente acontecem... E mudam tudo.