terça-feira, fevereiro 03, 2004

As aventuras de Johny X - Cap II
O mercado estava calmo aquele dia. Na verdade, aquela semana. O dólar oscilando pouco, com tendência de baixa; o risco Brasil caindo e o índice Bovespa em alta conferiam ao adrenalizado trabalho de Johny uma calma incomum, quase monótona para ele. Mas não demorou muito para a calmaria se transformar em tempestade.
_Johny, você atende a três? Perguntou a secretária com voz estridente.
_Rose, você sabe que eu tô operando, agora não dá, né?
_Eu sei, mas o cara disse que é importante, tava meio nervoso.
_Mas quem é afinal? – se irritava ele, segurando dois telefones e com os olhos grudados no monitor.
_Ele não quis dizer.
_Ô, meu saco.... Cadê o Buzina? Fala prá ele continuar aqui prá mim.
_Demorô, Johny - Não se fez de rogado, o estagiário que apareceu do nada.

Jhony mudou para a pequena mesa redonda de reunião e fitou o aparelho por alguns instantes. O número três piscando... não soube porque, mas teve um pequeno frio na barriga.
_Alô – disse ele tentando demonstrar naturalidade.
_Prá quem tá perto de virar presunto, você tá bem sem-pressa, né, playboy? Disse a voz meio abafada do outro lado da linha.
_Quem tá falando?
_É... Senhor Johny... Vai pegar sua moto de bacana amanhã, depois vai naquela academia de bacana à noite... Tá bem na fita, né, pleiba?
_Quem tá falando? Não tô achando graça nenhuma.
_Se liga, mané, que tão querendo fazer a sua – e desligou o telefone.

Johny estava zonzo. Que estava acontecendo afinal? Olhando para o vazio da mesa, tentava se acalmar e por as idéias em ordem. “O cara me ameaçou, disse que eu vou virar presunto, mas não pediu nada...” refletia ele desesperadamente.
_Rose, tem como saber o número do telefone que me ligou agora pouco? gritou ele para a secretária.
_Vou ver com o pessoal da manutenção e te falo. Nossa, cê tá pálido. Tudo bem?
_Claro – disse ele tentando disfarçar – Vê se consegue o número prá mim, tá?
_Tá bom.

Pela sua mente passava um turbilhão de coisas: assalto, seqüestro, morte, dúvidas, “por que eu?”, tudo se agitava na sua mente. Então lembrou de algo nada animador. Não havia comentado com ninguém sobre a Harley. Não que ele não quisesse ter falado, mas realmente não teve oportunidade. E a conclusão mais óbvia era que havia alguém seguindo seus passos. E essa sensação de invasão e impotência era a coisa mais horrível que ele já havia sentido na vida.

_5555-1214 – disse Rose – Esse é o número que ligou para você. Quer dizer, não é que o número ligou para você, mas a pessoa... Cê entendeu, né?
_Não, eu não estou entendendo mais nada, Rose. Mais nada.

continua>>