segunda-feira, agosto 16, 2004

Post-Novela-Policial-de-Antigamente

Ele levantou da cama às seis e meia da tarde. Sonolento, corpo doído, gosto de maçaneta na boca. Olhou sua cara amassada no espelho. Pensou em fazer a barba, mas não fez. Pegou uma camisa amarrotada em cima de uma cadeira e a vestiu. Depois, passou alguns minutos procurando seu blazer preto de lã, um tanto surrado, que estava caído atrás do sofá. Olhou o retrato de Dóris ao lado do telefone. Ela sorria para ele. Bateu a porta e chamou o elevador.

Rapidamente ele já estava andando pelas ruas do centro de São Paulo. O vento gelado que entrava pelas suas narinas fez com que ele despertasse completamente, deixando seu raciocínio aguçado novamente. Antes de entrar no jornal onde trabalhava, resolveu tomar um café.
O dono logo o reconheceu:

_O de sempre, Magro?
_O de sempre.
_Sai um “canela” com limão, aqui pro Magro! – Gritou com voz de barítono, o homem do caixa para a atendente que tirava os cafés.

Ele nunca disse, mas era imensamente grato ao dono daquele café. Aquela sensação de ser reconhecido no meio da multidão anônima de São Paulo trazia a ele um conforto muito grande. Sem falar que o café era realmente bom.

Quando ele entrou no jornal, seu chefe, o editor da página policial foi logo dizendo:

_Se prepara que hoje a noite vai ser daquelas. Parece que um cara cheio da grana, no Brooklin, matou a esposa. Vai prá lá agora.
E completou:
_Você está com uma cara horrível, hein? Podia pelo menos fazer a barba, né?
_ Boa noite, prá você também, chefe.

Pegou a maleta e saiu.

continua>>