quarta-feira, novembro 26, 2003

Post Novela – Cap VII
_ Sai prá lá com essas baquetas, Meg. Dá outra vez que você fez isso, fiquei com o maior galo... Por falar nisso, que baquetas eram aquelas?
_ Eram umas “Pro-Mark Thunder Rods” que o Renato me emprestou.
_ Ah, tá...
_ Mas não me enrola. Que negócio de pinga é esse?

Margareth Cristina era o nome dela. Baterista da banda Pulso, ela e o carinha estudaram juntos quando crianças e tempos depois se reencontraram. O carinha, na camaradagem, produziu umas fotos da banda dela, para usarem na capa do CD demo. A partir de então, viraram grandes amigos. O apelido Meg, foi colocado por ele, há uns dois anos, quando conheceu a banda White Stripes. A baterista dessa banda chama-se Meg White. A Meg gostou. E adotou. Virou praticamente o Grilo Falante do Carinha. É ela quem o traz de volta para a Terra quando ele se entrega numas viagens meio furadas. Eles têm gostos muito parecidos para bandas, filmes e livros. Apesar desses ataques melancólicos dele, ela gosta muito de sua companhia. Admira seu senso de generosidade e companheirismo. Acha que ele ainda vai ser um fotógrafo famoso. Como dissemos no Cap II, ela é prima da Clara. Na verdade, ela foi o elo de ligação entre os dois. Eles formam um triângulo interessante. São muito amigos sem dúvida. O carinha é o grande confidente da Meg. E a Meg por sua vez é ombro amigo da Clara. Engraçado como a Meg se abre muito mais com ele do que com ela. Não é uma questão de gostar mais ou menos, apenas de algo que eu chamo de “dinâmica entre pessoas”. Não é uma coisa muito consciente. Ela apenas se pega falando umas coisas para o carinha, que não se vê falando para a Clara. Mas ela gosta muito da Clara. Acha incrível como ela é desencanada de sua beleza acima da média. “Se fosse eu, ia aproveitar até...” costuma dizer.

_ Acho que eu tava querendo apagar... esquecer.
_ Aposto que tem a ver com a Clara, não é? Vocês brigaram?
_ Não. Não é isso... É que as vezes fico pensando, o que ela vê em mim, afinal?
_ Cara... Você tem noção de como você é resistente a ser feliz? Independente do que aconteça, fica sempre com esse choramingo... Se sente que ela gosta de você, fica sofrendo, imaginando uma possível perda. Se sente que ela não gosta, fica aí se achando o mais rejeitado do planeta. Cê curte uma fossinha, hein?
_ Sei lá... me sinto meio confuso as vezes, mas prá variar, acho que você está certa...
_Pense uma coisa: a Clara é aquela garota linda e bacana que todos adoram. Você sabe muito bem que tem uma fila daqui ao Rio de Janeiro de caras querendo alguma coisa com ela. No entanto, ela prefere ficar com o babaca choramingueiro. Tem gosto prá tudo nesse mundo, não é mesmo? Vê se relaxa um pouco, ok? Aproveita, vive um dia depois do outro. Não fique o tempo todo encanando com tudo. Bicho, você pensa demais.

De fato, a atividade cerebral daquele carinha, eram bem maior que a física. Era uma coisa que ele não podia evitar.

_Bom, dá essa pinga aqui. E virou o copinho de um gole só.
_Meg, caralho... Você me passa todo esse sermão e dá uma dessa?
_ Também não vamos desperdiçar, né? Nossa, cachaça é fim de carreira, hein?
_ Que nada, na Europa é a maior moda. E custa bem caro inclusive.
_ Então vamos pedir mais uma rodada...

E saíram dando risadas pela rua já quase deserta.

_Você já ouviu o disquinho novo dos Strokes? Perguntou Meg. Cara, é demais...

Em pouco tempo ele já tinha praticamente esquecido todas aquelas encanações. Estava se sentindo bem mais leve.
E não via a hora de encontrar Clara de novo.

continua>