sexta-feira, março 26, 2004

As aventuras de Johny X - Cap VI
Interessante. A conversa com Gilson não trouxe todas as respostas que Johny esperava, no entanto, por algum motivo, ele se sentia um pouco mais tranqüilo, um pouco menos tenso. Talvez pelo simples fato de poder conversar com alguém... mesmo que esse alguém fosse um motoboy não lá muito simpático. Será que podia confiar no cara? Será que ele disse a verdade? Pareceu que sim, mas até aí...

-------*-------

Johny não podia acreditar no ronco daquela moto... era demais. Quando saiu da loja e sentiu os primeiros sopros de brisa no rosto, por um breve instante, se esqueceu de todos aqueles problemas. Mas foi apenas por um breve instante. Imediatamente lembrou-se do primeiro contato telefônico de Gilson. Ele sabia que estava para pegar aquela moto. E se Gilson sabia... qualquer um poderia estar sabendo. Resolveu não dar bobeira. Foi fazendo uns caminhos alternativos até voltar para casa. Quando entrou, viu a luz da secretária eletrônica piscando indicando que havia recado. Nas últimas semanas, coisas banais agora eram motivo de tensão: “Quem será?”. Ficou enrolando para pressionar o botão... desistiu. Resolveu ir tomar banho antes.

Tomou banho; jantou; deu uma olhada na correspondência; checou os e-mails; deu uma zapeada na tevê.
Se ajeitou no sofá. Respirou fundo. Olhou mais uma vez para a luzinha vermelha piscando e apertou o botão:
_Oi, João, é mamãe. Está tudo bem? Onde você tem andado? Quando puder, me ligue. Beijo.
Ele simplesmente havia esquecido de tudo e de todos naquelas últimas semanas: mãe, amigos, “amigas”...
Mas não tinha jeito, estava difícil conseguir encontrar ânimo para falar com qualquer um... Mas de qualquer maneira, deixou um recado no celular quase sempre desligado de sua mãe.

Foi deitar cedo naquela quarta-feira. Este, que há pouco tempo era o seu dia da semana sinônimo de balada, agora era sinônimo de cama (e o pior, sozinho).

Pelo menos, aproveitou o descanso. Quando acordou para ir trabalhar no dia seguinte, sentia-se bem mais disposto. Pegou seu capacete preto tipo coquinho, óculos escuros, sua pasta, a chave da Harley e desceu.

Céu azul, pouco trânsito, um solzinho tímido, porém suficiente para dar uma aquecida no coração daquele paulistano. Dessa forma, Johny chegou um pouco mais animado ao escritório naquele dia.

Um pouco antes do meio dia, o mercado não estava dos melhores. Ainda sentindo o impacto do caso Waldomiro Diniz, o Ibovespa continuava caindo e o dólar pressionando para cima. Mas Johny estava focado; foi conseguindo se desfazer dos papéis mais problemáticos de alguns clientes e minimizando os prejuízos. Estava tão concentrado que nem percebeu quando Gilson entrou para buscar alguns papéis com Rose, a secretária da corretora.

Gilson, como de costume, estava com o semblante fechado, apresentando sua habitual cara de poucos amigos...
Quando finalmente Johny percebeu que ele estava lá, Gilson simplesmente o ignorou. Mas não por muito tempo.

Esperou Gilson sair da sala e foi atrás do motoboy, alcançando-o na entrada do elevador.

_E aí, alguma novidade? Perguntou Johny.
_Cara, põe uma coisa na tua cabeça de maurício: se os caras se ligam que eu te falei alguma coisa, eu tô pego, entendeu? Então, se vira, mano. Essa parada é problema seu. Eu já fiz até demais. Vê se desembaça. – E entrou no elevador sem olhar para trás.

Johny voltou para sua mesa. Todo foco e concentração se foram. Só conseguia pensar na sua “parada” como disse Gilson. Decidiu pensar um pouco no que o Motoboy havia dito da outra vez, sobre a proximidade do “alguém” que queria pegá-lo... Começou a passar mentalmente, pessoa por pessoa, que trabalhava naquele local... Achava difícil associar qualquer um à esse tipo de coisa.

Depois do almoço a tarde ia se arrastando. Rose passa uma ligação para o Johny que, distraído, atende.

_ Alô .
_Agora a casa caiu pro meu lado – disse Gilson, sem firula.
Johny demorou um pouco para processar e finalmente perguntou:
_O que aconteceu?
_Tentaram me pegar hoje no trânsito, depois que saí daí. Uma pick-up preta quase me esmaga numa coluna de metrô.
_Mas como você sabe que foi intencional? Não pode ter sido acidente?
_Sem chance. O cara jogou o carro em cima mesmo. Na moral. Com certeza, ficaram sabendo de alguma coisa.
Gilson demonstrava uma estranha calma, tanto, que Johny ficou pensando se aquela situação não seria normal para o motoboy...
_Bom, e agora? O que a gente faz? Perguntou Johny.
_ A gente pega eles bacana. Antes que eles peguem a gente.

>>continua