quarta-feira, setembro 17, 2003

”Nas ruas é que eu me sinto bem
Ponho meu capote e está tudo bem/ Vejo pessoas...”

É começo de noite e o tempo está frio e úmido. Eu e uma mini multidão aguardamos o sinal de pedestres esverdear para atravessarmos a Consolação rumo à Maria Antonia. Percebo que a mini multidão é formada basicamente por estudantes do Mackenzie. Bolsas, muchilas, bonés, óculos, cabelos com gel, sorrisos. Percebo uma estudante usando boina e óculos de armação preta e grossa, carregando alguns livros e uma revista estrangeira. Está fazendo pose de intelectual, pensei.
Sigo pela Maria Antonia. Mais estudantes: cabeludos; carecas; de piercing; de gravata; risadas; beijos na boca. O clima de faculdade me agarra, não quero mais sair dessa rua. Deus, como eu gosto desta atmosfera. Preciso pensar melhor nisso.
Continuo observando as pessoas que passam em direção contrária. Quero descobrir quem são. Começo a encará-las. Todas desviam o olhar. Até que...

Uma garota não desvia, parecendo me desafiar com os olhos. Será que ela já estava me observando? Ela não é bonita. Não consigo identificar se é estudante ou como eu, de passagem. Também não consigo estimar sua idade. Sem diminuir o ritmo das passadas ela passa por mim lentamente, em slow motion. Encarando, desafiando. Querendo olhar dentro de mim. Fico tentado a olhar para trás depois que ela passa, mas não olho. Apenas sigo andando, agora descendo a Dona Veridiana em direção ao Largo Santa Cecília. Uma fina garoa começa a cair.

Nas ruas ninguém mais me percebe. Mas olhando para cima, vejo uma silhueta na janela de um apartamento. Acho que é uma pessoa de idade. Não sei se é homem ou mulher, mas sinto que ela está ali olhando as pessoas passarem. Pode ser que ela tenha me visto olhando em sua direção. Mas isso não importa.

Continuo andando.

Não me sinto mais sozinho.