quarta-feira, março 31, 2004

Diário de um papai fresco - II
Nem bem chegamos em casa e já saímos de volta para o hospital. Tínhamos feito apenas uma parada na D. Amélia, mãe da Cris, para um almoço rápido. Afinal de contas, o André tinha os horários certos para as mamadas. Chegando lá, nos deram crachás de "UTI Neonatal". Eu já tinha visto umas pessoas com esses crachás nos dias anteriores e é inevitável olhar prá eles e não lembrar de sofrimento, preocupação... e solidariedade. Senti que ao portá-lo também despertava esses sentimentos nas pessoas. A Cris acabou fazendo amizade com várias outras mães que também esperavam pela hora de amamentar seus filhos. Algumas ainda teriam que continuar com essa rotina por vários meses, pois seus filhos haviam nascidos prematuros. Alguns de 6 meses... Na UTI, a Cris aproveitou para fazer um curso intensivo de amamentação. Taí uma coisa que não é tão fácil quanto parece. Lembrei-me de umas fotos (não sei bem de onde vem essa referência) de umas mães amamentando seus bebês sob uma luz suave, como que filtrada por um véu, a expressão cândida e tranquila... Uma imagem muito doce de fato, porém, um tanto romântica. A verdade é que essa atividade é difícil. Mesmo com o bebê faminto e querendo mamar e a mãe com o leite e querendo amamentar, as coisas não rolam muito fácil no começo. E geralmente é doloroso para a mãe. É por isso que tantas desistem.

Prá ficar mais fácil o vai-e-vem ao hospital, já que as mamadas eram a cada duas horas, acabamos nos hospedando na casa da Helena, que ficava mais perto. Naquela noite ainda jantamos e dormimos por lá.

Na manhã seguinte, cheios de expectativa, voltamos ao hospital. Caso a taxa de bilirrubina apresentasse queda em relação à última medição, o André teria alta!
Por volta de umas 10 e meia, veio a confirmação: sua taxa baixara de 12,9 para 6,8. Ele estava liberado!

Lá foi o papai novamente resolver os papéis da alta na tesouraria.
Tudo certo, levamos o pequenino todo enrolado em sua mantinha azul.
Agora sim, a tão esperada viagem de volta prá casa... a três.
No carro, sentindo a velocidade reduzida, os vidros fechados e a minha constante monitoração pelo espelho retrovisor, a Cris falou: "pode ligar o rádio, papai". Foi bom prá descontrair.
Liguei e... ufa! Estava sintonizado na Kiss FM. A primeira música do André foi só o restinho de "Oh Susie!", do Secret Service. Mas só deu prá ouvir o finalzinho: "We were much too young...". Em seguida entrou "Everybody wants to rule the world", do Tears for Fears. Foi bom prá ele saber desde cedo que este é um mundo onde todos querem ditar suas regras. Na hora do solo de guitarra, dei uma leve aumentadinha. Com seus dedos longos, quem sabe ele não executará com perfeição o solo do Roland Orzabal que seu pai nunca conseguiu?

Falando em música, esqueci de comentar que algum filho de roqueiro deve ter nascido no mesmo dia que o André lá no hospital. O Cícero me contou que viu o João Gordo no corredor. Na segunda-feira, ao descer para a garagem com o Marco, encontrei o Andreas Kisser, do Sepultura.

continua...