sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Post-Novela-Policial-de-Antigamente VIII

Rico foi voando para o Instituto Médico Legal, onde o corpo do ex-motorista Carlito estava sendo submetido à autópsia.

Aquele ambiente gélido, cheirando formol e morte já era conhecido de Rico, que ali estivera muitas outras vezes. Sem dúvida, não era agradável, mas já estava habituado. Claro que não a ponto de comer alguma coisa ali dentro, como faziam seus conhecidos que trabalhavam lá, mas ele até que suportava bem.

Assim que Rico entrou, foi saudado por um homem franzino, de fala mansa, chamado Otávio.
_ Tudo bem Rico? Veio saber do motorista?
_ Isso mesmo. Você já sabe como ele morreu?
_ Comendo um sanduíche de rosbife com queijo e tomate.
_ Quer dizer que ele morreu comendo um Bauru?
_ Um o quê?
_ Deixa prá lá...
_ Quis dizer que esta foi sua última refeição. Ainda não dá para saber com certeza, mas ele pode ter sido envenenado. Estamos aguardando o resultado de mais alguns exames para ter uma resposta mais confiável.
_ E quanto tempo isso leva?
_ Alguns dias... Talvez quatro ou cinco.
_ Mas, informalmente, qual a sua opinião? Você acha que ele foi assassinado?
_ Olha, tem boas chances... O coração do sujeito ficou num estado lastimável... Um ataque-cardíaco comum não costuma fazer isso.
_ Ok, obrigado, por enquanto.
_ Você é de casa, Rico.
Esta última frase soou um pouco desconfortável para o repórter, mas ele nada disse e saiu.
“Ser de casa em um necrotério, não era exatamente meu modelo de sucesso na vida.”

“CASO DO BROOKLIN SE COMPLICA, MOTORISTA DA FAMÍLIA É ASSASSINADO.”

_Mas chefe, eu disse que era uma possibilidade, não um fato consumado. - argumentava o repórter.
_ O fato, Rico, é que já há alguns dias não tínhamos nada sobre o caso, as coisas estavam esfriando. E as vendas também.
_ Mas assim eu fico mal com as minhas fontes. Prejudica trabalhos futuros.
_ O futuro, no futuro a gente resolve. O jornal tem contas para pagar hoje.
Rico pensou em argumentar sobre onde ficaria a ética nessa história toda, mas achou que talvez não fosse o momento.

_ Rico, telefone prá você! - berrou o jornalista da mesa ao lado.
O repórter atendeu.
_ Rico falando.
_ Aqui é Roseli, nós conversamos uns dias atrás.
Pelo barulho, Rico concluiu que a pessoa falava de um telefone público, mas não sabia de quem se tratava.
_ Roseli...
_ Eu sou a secretária do Dr. Cláudio e do Sr. Gouveia.
_ Ah, claro. Como vai? Em que posso ajudá-la?
_ Olha, tem algumas coisas que eu gostaria de te falar, mas eu tenho um certo receio...
_ Não se preocupe, ninguém precisa ficar sabendo, posso te garantir sigilo absoluto. Você tem a minha palavra.
_ Bom, se você me garante...
_ Pode ficar tranqüila. Quando você gostaria de conversar?
_ Prá dizer a verdade, prá mim seria melhor no sábado.
_ Não tem problema, o dia que for mais adequado para você.
_ Então, tá. Pode ser umas três horas?
_ Sábado às três, ok. Que tal conversarmos no Parque da Luz? Os lugares movimentados costumam ser os mais discretos.
_ Está bem.
_ Você sabe onde fica aquela pontezinha sobre o lago?
_ Sei, sim.
_ Então nos encontramos lá. Tchau.

Rico teria que aguardar um pouco mais para ter novas informações sobre o caso.

_ Rico, você tem televisão? - Perguntou, do nada, seu editor.
_ Claro que não, chefe. A menos que você me dê um aumento, o que seria bastante justo...
O editor fingiu que não ouviu essa última parte e respondeu:
_ Pois tem uma pesquisa aqui dizendo que no máximo em duas décadas ela será acessível à quase toda a população. O que você acha?
_ Acho que é esse o tempo que vou ter que esperar por um aumento...
Como o chefe ignorou novamente, Rico concluiu:
_ Mas é possível. Com o passar do tempo, as novidades vão barateando. Veja os automóveis, por exemplo. Quem diria, há alguns anos, que em 1962 teríamos tantos deles nas ruas?
_ Nessa pesquisa está dizendo que até o ano 2000, os carros estarão é voando sobre as ruas...
_ Voando? Bom, talvez resolva o problema do trânsito no fim do dia.
_ E os bondes? Acho que no futuro deverão fazer bondes bem melhores, hein?

continua>>