quinta-feira, dezembro 30, 2004

Post-Novela-Policial-de-Antigamente VII

Rico caminhava desviando das poças de chuva. O caso se complicava a cada momento. Aquilo que no começo parecia ser um simples caso passional, na verdade, não tinha nada de simples... E agora, entra em cena o sócio do principal suspeito. Seria ele o amante de Dona Veridiana?

O editor de Rico havia pedido prioridade total no caso. Havia, inclusive, dispensado o repórter de ir até o jornal. Rico pensava no próximo passo. Nesse horário, não conseguiria nenhuma informação sobre o sócio na empresa. Resolveu ligar para seu conhecido na polícia o Capitão Ernesto Sanches.

_ Oi, Ernesto, como vai?
_ Rico, pode esquecer, que eu não posso te revelar nada sobre o caso do Brooklin.
_ Também vou bem, Ernesto, obrigado. – disse Rico com ironia.
_ Não venha com gracinhas, Rico. Sei muito bem porque você ligou. E não foi para saber da minha saúde.
_ Mas um pouco de cordialidade também não custa nada, né? Que coisa... Bom, mas e o caso do Brooklin, como anda?
_ Mas eu acabei de te dizer que não posso falar sobre isso. Informações divulgadas pela imprensa atrapalham muito nosso trabalho.
_ Mas você sabe que eu não publico nada sem você saber.
_ Eu sei, Rico. E por você ter tido um comportamento decente comigo esses anos todos, é que permito que você saiba um pouco mais do que seus outros colegas, que por falar nisso, ô, gentinha filha da... Ah... sem ofensa, Rico.
_ Não, tudo bem, gostaria de dizer que você está errado... Mas, e sobre o caso? Alguma pista nova?
_ Olha, com certeza o caso não é tão simples como pensávamos no início.
_ Sério? Não, brinca. Disse Rico com sarcasmo.
_ É praticamente certo que o amante de Dona Veridiana seja um jovem ator chamado Paulo. Posso lhe dizer isso porque ele já foi intimado a depor. Mas não vá me publicar nada a respeito antes disso, estamos entendidos?
_Claro, Ernesto, obrigado. – E desligou rapidamente o telefone. “Um jovem ator?” A cada momento o caso ficava mais esquisito.

No dia seguinte, Rico foi logo cedo até a empresa de Dr. Cláudio para ver se conseguia conversar com o sócio ou algum funcionário disposto a falar. Explicou para a secretária da diretoria da empresa que estava apenas recolhendo algumas informações superficiais para uma matéria que estava escrevendo sobre o caso. Procurou conversar de modo bastante informal com a secretária, inclusive, tomando apenas notas mentais sobre o que ela dizia.

_ E você já conhecia o Dr. Cláudio há muito tempo? – perguntou Rico.
_ Há vários anos. Comecei trabalhando lá na fábrica, ainda menina. Só depois vim para o escritório, há oito anos.
_ Deve ter sido um choque para você, né?
_ Nem me fale, é difícil de acreditar. O Dr. Cláudio, homem tão bom... nunca imaginei que pudesse ser capaz de uma coisa dessas...
_ Não é incomum. – disse Rico – Muitas vezes, assassinos terríveis são pessoas que aparentam ser totalmente inofensivas. Mas a polícia está investigando... quem sabe, não aparece alguma coisa nova?
_ É, quem sabe...
_ Então, agora você está secretariando apenas o Sr. Gouveia?
_ Isso mesmo. – respondeu a moça um tanto incomodada.
_ E o relacionamento dele com Dr. Cláudio era bom?
_ Olha, o que eu posso dizer é que o Dr. Cláudio confiava nele.
_ E porque você afirma isso? - Perguntou o repórter.
_ Por que o Dr. Cláudio...

A secretária levou um baita susto quando o Sr. Gouveia, de repente, abriu a porta de seu gabinete. Alguns segundos de constrangimento se passaram até que Rico disse:

_ Sr. Gouveia, certo? Estava justamente tentando convencer sua secretária a me deixar falar uns dois minutinhos com o senhor. Mas ela estava irredutível... – disse Rico com bom humor.
_ De que se trata? - perguntou secamente o homem.
_ Eu trabalho para o Correio da Manhã e estou escrevendo uma matéria sobre o caso do Brooklin.
_ Tudo que tinha a dizer, já disse a polícia, se quiser, pergunte a eles.
_ Mas só levaria dois minutos e...
_ O senhor tem problemas de audição? Já disse que o que tinha a dizer já disse à polícia. Não tenho tempo para isso. Por favor, retire-se da minha empresa.

Rico não teve alternativa. Deu meia-volta e saiu. O homem realmente não gostava da imprensa. O repórter já havia tido várias experiências desse tipo, mas ainda assim, ficou um pouco cismado com a rispidez do homem.

Rico foi até um telefone público. Ele não acreditava nos seus ouvidos, enquanto o editor berrava do outro lado:

_ Rico, aquele motorista do Dr. Cláudio, o Carlito, está morto. Precisamos descobrir se pode ter alguma coisa com o caso do Brooklin.

continua>>