quarta-feira, outubro 29, 2008

As aventuras de Johny X - Cap VII

"A gente pega eles? Como assim, a gente pega eles? Eu não quero pegar ninguém, não... Só quero me livrar disso tudo." - pensava Johny com seus botões.

Já fazia um mês desde o primeiro telefonema de Gilson. E neste mês, de muita tensão, a vida de Johny simplesmente virou de cabeça para baixo. O paraíso em que ele aparentemente vivia, desmoronou. Refletiu longamente sobre a possibilidade de envolver a polícia no caso e deixar profissionais que são treinados e pagos para isso (pelo menos, deveriam ser) resolvessem o problema. Acabou descartando esta opção por enquanto. Preferiu esperar um pouco mais e ver se conseguia descobrir alguma coisa. Também ficou pensando em Gilson... ainda tinha dúvidas se poderia realmente confiar nele. Alguma coisa em seu interior dizia que sim, que aquele jeito rude do motoboy, indicava também uma certa transparência e sinceridade. Mas o lado racional de Johny preferia confiar desconfiando.

Gilson suspirou. Sabia o que precisava fazer. Proteger o que tinha de mais valioso. Mais que a própria vida, o que interessava para ele, era a segurança da sua filhinha Jéssica.

_ Por que eu preciso ficar na casa da vovó? - Perguntou a pequena.
_ Porque sim.
_ Porque sim não é resposta, sabia?
_ Então, porque precisa.
_ Mas precisa por que, pai? Foi o que eu perguntei primeiro, poxa...
_ Filha, o papai jamais faria isso, se não precisasse muito. Você sabe que eu te amo, né?

Gilson não cansava de se admirar com a precocidade e inteligência da filha. Quando a mãe dela foi embora, achava que a menina sofreria muito. Mas a capacidade de adaptação das crianças é muito maior que a dos adultos. Ela nunca chorou pedindo pela mãe e raramente falava dela.

_ É só por um tempo, tá bom? Ele só não tinha idéia de quanto tempo...

Enquanto isso, no escritório, Johny pensava em quem poderia se beneficiar com sua morte... Haviam três prováveis pessoas que poderiam ocupar o lugar dele: Ricardo Andrea Luchetta, Felipe Silveira e Rodrigo Portela. Em princípio, parecia bastante improvável que qualquer uma destas pessoas pudesse ter qualquer envolvimento com uma coisa dessas. Mas ele sabia que as pessoas nunca são apenas o que aparentam. Até mesmo, ele próprio.

quinta-feira, outubro 02, 2008

As aventuras de Johny X - Cap VI

Interessante, a conversa com Gilson não trouxe todas as respostas que Johny esperava, no entanto, ficou um pouco mais tranqüilo, menos tenso. Pelo menos agora, ele tinha uma noção do que estava acontecendo. E mais, sentiu um consolo pelo simples fato de poder conversar com alguém... mesmo que esse alguém fosse um motoboy não lá muito simpático. Será que podia confiar no cara? Será que ele disse a verdade? Ou toda a verdade? Pareceu que sim, mas até aí...

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Johny não podia acreditar no ronco do motor daquela moto... era demais. Quando saiu da loja e sentiu os primeiros sopros de brisa no rosto, por um breve instante, se esqueceu de todos aqueles problemas. Mas foi apenas por um breve instante. Imediatamente lembrou-se do primeiro contato telefônico de Gilson. Eles sabiam que estava para pegar aquela moto. Resolveu não dar bobeira. Foi fazendo uns caminhos alternativos até voltar para casa. Quando entrou, viu a luz da secretária eletrônica piscando indicando que havia recado. Nas últimas semanas, coisas banais agora eram motivo de tensão: "Quem será?". Ficou enrolando para pressionar o botão... desistiu. Resolveu ir tomar banho antes.

Tomou banho; jantou; deu uma olhada na correspondência; checou os e-mails; deu uma zapeada na tevê.
Se ajeitou no sofá. Olhou mais uma vez para o telefone que indicava uma nova mensagem, respirou fundo e apertou o botão:
_Oi, João, é mamãe. Está tudo bem? Onde você tem andado? Quando puder, me ligue. Beijo.
Ele simplesmente havia esquecido de tudo e de todos naquelas últimas semanas: mãe, amigos, "amigas"...
Mas não tinha jeito, estava difícil conseguir encontrar ânimo para falar com qualquer um... Mas de qualquer maneira, deixou um recado no celular quase sempre desligado de sua mãe.

Foi deitar cedo naquela quarta-feira. Há pouco tempo era o seu dia da semana preferido para baladas, agora era sinônimo de cama (e o pior, sozinho).

Pelo menos, aproveitou o descanso. Quando acordou para ir trabalhar no dia seguinte, sentia-se bem mais disposto. Pegou seu capacete preto tipo coquinho, óculos escuros, sua pasta, a chave da Harley e desceu.

Céu azul, inacreditavelmente pouco trânsito, um solzinho tímido, porém suficiente para dar uma aquecida no coração daquele angustiado paulistano, fizeram com que ele chegasse um pouco mais animado ao escritório naquele dia.

Um pouco antes do meio dia, o mercado não estava dos melhores. Ainda sentindo o impacto da quebradeira dos bancos americanos, o Ibovespa continuava caindo e o dólar pressionando para cima. Mas Johny estava focado; foi conseguindo se desfazer dos papéis mais problemáticos de alguns clientes e minimizando os prejuízos. Estava tão concentrado que nem percebeu quando Gilson entrou para buscar alguns papéis com Rose, a secretária da corretora.

Gilson, como de costume, estava com o semblante fechado, apresentando sua habitual cara de poucos amigos...
Quando finalmente Johny percebeu que ele estava lá, Gilson simplesmente o ignorou. Mas não por muito tempo.

Esperou Gilson sair da sala e foi atrás do motoboy, alcançando-o na entrada do elevador.

_E aí, alguma novidade? Perguntou Johny.
_Cara, põe uma coisa na tua cabeça de maurício sem-noção: se os caras se ligam que eu te falei alguma coisa, eu tô pego, entendeu? Então, se vira, mano. Essa parada é problema seu. Eu já fiz até demais. Vê se desembaça. - E entrou no elevador sem olhar para trás.

Johny voltou para sua mesa. Todo foco e concentração se foram. Só conseguia pensar na sua "parada" como disse Gilson. Decidiu pensar um pouco no que o Motoboy havia dito da outra vez, sobre a proximidade do "alguém" que queria pegá-lo... Começou a passar mentalmente, pessoa por pessoa, que trabalhava naquele local... Achava difícil associar qualquer um à esse tipo de coisa.

A tarde se arrastou lentamente. O mercado fechou e Johny analisava alguns relatórios. Foi então que Rose passou uma ligação que ele, que, distraído, atendeu.
_ Alô .
_Agora a casa caiu pro meu lado - disse Gilson, sem firula.
Johny demorou um pouco para processar e finalmente perguntou:
_O que aconteceu?
_Tentaram me pegar hoje no trânsito, depois que saí daí. Uma pick-up preta quase me esmaga numa coluna do metrô.
_Mas como você sabe que foi intencional? Não pode ter sido acidente?
_Sem chance. O cara jogou o carro em cima mesmo na moral. Com certeza, ficaram sabendo de alguma coisa.
Gilson demonstrava uma estranha calma, tanto, que Johny ficou pensando se aquela situação seria normal para o motoboy...
_Bom, e agora? O que a gente faz? Perguntou Johny.
_ A gente pega eles, bacana. Antes que eles peguem a gente.

>>continua