sexta-feira, novembro 28, 2003

Envelhecemos na Cidade
Ontem foi aniversário do R3x. Mais um ano nessa cidade maluca. Eu nasci e cresci aqui, então não tenho muita referência do que seja "não morar aqui". Mas o Master, veio do interior. Mamava na teta da vaca e aquela coisa toda. As vezes fico pensando como ele aguenta. Talvez do mesmo jeito que eu: não pensando muito a respeito...
A questão é: quanto, dos benefícios de se morar em São Paulo, nós aproveitamos ? Quanto desfrutamos dos restaurantes, bares, danceterias, teatros, museus, shows e etc? Será que não era melhor morar em outro lugar e passear aqui no fim de semana?

Droga, comecei a escrever esse post na intenção de mandar um abraço ao R3x e acabei escrevendo outra coisa.
Será que eu ando tão ácido assim?

De qualquer forma, por causa desse mesmo R3x, sabadão irei ao teatro (assistir uma peça recomendada por ele) e depois comer uma pizza para comemorar seu níver. Ainda bem que eu moro aqui.

PARABÉNS BROTHER

quarta-feira, novembro 26, 2003

Post Novela – Cap VII
_ Sai prá lá com essas baquetas, Meg. Dá outra vez que você fez isso, fiquei com o maior galo... Por falar nisso, que baquetas eram aquelas?
_ Eram umas “Pro-Mark Thunder Rods” que o Renato me emprestou.
_ Ah, tá...
_ Mas não me enrola. Que negócio de pinga é esse?

Margareth Cristina era o nome dela. Baterista da banda Pulso, ela e o carinha estudaram juntos quando crianças e tempos depois se reencontraram. O carinha, na camaradagem, produziu umas fotos da banda dela, para usarem na capa do CD demo. A partir de então, viraram grandes amigos. O apelido Meg, foi colocado por ele, há uns dois anos, quando conheceu a banda White Stripes. A baterista dessa banda chama-se Meg White. A Meg gostou. E adotou. Virou praticamente o Grilo Falante do Carinha. É ela quem o traz de volta para a Terra quando ele se entrega numas viagens meio furadas. Eles têm gostos muito parecidos para bandas, filmes e livros. Apesar desses ataques melancólicos dele, ela gosta muito de sua companhia. Admira seu senso de generosidade e companheirismo. Acha que ele ainda vai ser um fotógrafo famoso. Como dissemos no Cap II, ela é prima da Clara. Na verdade, ela foi o elo de ligação entre os dois. Eles formam um triângulo interessante. São muito amigos sem dúvida. O carinha é o grande confidente da Meg. E a Meg por sua vez é ombro amigo da Clara. Engraçado como a Meg se abre muito mais com ele do que com ela. Não é uma questão de gostar mais ou menos, apenas de algo que eu chamo de “dinâmica entre pessoas”. Não é uma coisa muito consciente. Ela apenas se pega falando umas coisas para o carinha, que não se vê falando para a Clara. Mas ela gosta muito da Clara. Acha incrível como ela é desencanada de sua beleza acima da média. “Se fosse eu, ia aproveitar até...” costuma dizer.

_ Acho que eu tava querendo apagar... esquecer.
_ Aposto que tem a ver com a Clara, não é? Vocês brigaram?
_ Não. Não é isso... É que as vezes fico pensando, o que ela vê em mim, afinal?
_ Cara... Você tem noção de como você é resistente a ser feliz? Independente do que aconteça, fica sempre com esse choramingo... Se sente que ela gosta de você, fica sofrendo, imaginando uma possível perda. Se sente que ela não gosta, fica aí se achando o mais rejeitado do planeta. Cê curte uma fossinha, hein?
_ Sei lá... me sinto meio confuso as vezes, mas prá variar, acho que você está certa...
_Pense uma coisa: a Clara é aquela garota linda e bacana que todos adoram. Você sabe muito bem que tem uma fila daqui ao Rio de Janeiro de caras querendo alguma coisa com ela. No entanto, ela prefere ficar com o babaca choramingueiro. Tem gosto prá tudo nesse mundo, não é mesmo? Vê se relaxa um pouco, ok? Aproveita, vive um dia depois do outro. Não fique o tempo todo encanando com tudo. Bicho, você pensa demais.

De fato, a atividade cerebral daquele carinha, eram bem maior que a física. Era uma coisa que ele não podia evitar.

_Bom, dá essa pinga aqui. E virou o copinho de um gole só.
_Meg, caralho... Você me passa todo esse sermão e dá uma dessa?
_ Também não vamos desperdiçar, né? Nossa, cachaça é fim de carreira, hein?
_ Que nada, na Europa é a maior moda. E custa bem caro inclusive.
_ Então vamos pedir mais uma rodada...

E saíram dando risadas pela rua já quase deserta.

_Você já ouviu o disquinho novo dos Strokes? Perguntou Meg. Cara, é demais...

Em pouco tempo ele já tinha praticamente esquecido todas aquelas encanações. Estava se sentindo bem mais leve.
E não via a hora de encontrar Clara de novo.

continua>

segunda-feira, novembro 24, 2003

Formol
Diz a lenda que alguém já viu um cartaz numa loja de discos com os dizeres: "Temos posters de artistas vivos, mortos ou Keith Richards".
Outro dia vi um show na tv em que aparecia o sr. Richards. O show era de 92, mas ele já estava com a decrepitude e a falta de viço que lhe são tão peculiares. Só que perto do Bob Dylan, que também estava lá, o sr. Richards parecia um garoto. O sr. Dylan estava muito mais mumificado. Ele estava quase um Ozzy Osbourne.

quinta-feira, novembro 20, 2003

Esses humanos que circulam - III
E quando vc pergunta prá alguém: "o que vc gosta de ouvir?" e a pessoa responde: "eu gosto de tudo!" ?
Perigoso, né? Será que esses humanos, já tão preconceituosos por natureza, ficam tão "open-minded" quando o assunto é música?

terça-feira, novembro 18, 2003

As pickups mágicas do DJ Leandro
Quando conheci o "Martans" não sabia que o cara era o "Leandro" e muito menos que era DJ. Só muito depois de termos nos tornado amigos é que pude vê-lo em ação e, como diria o Wandi, "que grata satissurpresa!"...
Além do cara mandar muito bem e entender tudo de beats, grooves e climas, ele domina o repertório e monta sets que são a própria história da minha vida. E o que é melhor: não achei isso apenas por ser seu amigo, o cara realmente é profiça.

A vida é um vídeo-clipe - IV
Ontem adentrei à empresa e ao departamento, ouvindo o Sr. Clapton (Reptile) nos headphones...
Bom, estava no volume mais alto que meus ouvidos podiam suportar.
Sei que é besteira. Talvez criancice da minha parte. Mas trouxe uma sensação muito boa aquilo, carregar esse prazer para dentro do trabalho. Era como se eu estivesse munido de um poderoso campo de força. Que nada seria capaz de me atingir. Que nada estragaria meu dia. Que eu era indestrutível. Que eu era o senhor do castelo.

Voltando da estratosfera: enfim, foi legal.
Eu recomendo. Só isso.

Post Novela – Cap VI
“Perfeito” pensou o carinha. Evidente que ia acontecer alguma coisa. Tava acontecendo tudo tão certo. Por que sempre tem que ser assim? Pensava ele enquanto pegava o long way home .

“Ok, tinha prova, já era uma substutiva. Mas não dava nem para falar tchau??” Por mais que ele tentasse racionalizar, aquele sentimento de rejeição não desgrudava do fundo do seu peito. E ele ia andando, meio sem direção, pelas ruas movimentadas. E essa dor acabou trazendo a tona outras lembranças, de outros relacionamentos. De repente, começaram a desfilar pela sua mente todas as garotas com as quais já tivera alguma coisa: desde o primeiro beijo, com a Veridiana à primeira vez de fato, com a Gabriela. Os foras que levou. Os que precisou dar. As coisas engraçadas e tristes que aconteceram ao longo dos anos com essas garotas. Então começou a viajar em uma idéia muito esquisita: começou a pensar em uma festa... não, um coquetel. Isso, um coquetel com todas as suas ex-namoradas. Bom, não seria necessário um local muito grande. Não precisaria ser no Morumbi, nem no Credicard Hall, nem no Olympia... é, a sala do seu apartamento de um quarto resolveria o problema.

_Ele beijava muito mal, acho até que nunca havia beijado ninguém antes – dizia Veridiana, rindo, entre um gole e outro de sua bebida ice alguma coisa
_Bom, comigo foi pior ainda. Precisei ensinar tudo à ele, sabe? “Isso, agora faz assim... não, aí não...” Ai, foi um saco... se bem que hoje em dia, é até engraçado lembrar disso. Dizia Gabriela.
_Vocês acreditam que ele esqueceu do meu aniversário? Vê se pode? Eu toda arrumada, achando que fôssemos sair, fazer alguma coisa legal e ele me aparece em casa, tarde, vestido de qualquer jeito, sem presente, na maior tranquilidade. Vocês precisavam ver a cara dele quando me viu toda arrumada, sentada de braços cruzados no sofá. Parecia que tinha visto um fantasma! Foi muito engraçado. Saiu correndo e, não encontrando nenhuma floricultura aberta, apareceu com umas flores chinfrins que deve ter arrancado do jardim de algum prédio. Patético... – divertia-se Luciana.
O carinha ia circulando pelas rodinhas de ex-namoradas e ouvindo esses depoimentos bacanas. “Babaca”, “atrapalhado”, “xarope”, “looser” elas iam dizendo sem parar. Até que chegou em uma rodinha onde estava Clara, aparentemente se divertindo muito: “Vocês acreditam que tocou o sinal e ele achou que fossem “sinos”? Sabe aquele tipo de coisa que se diz nos filmes? Eu tinha vontade de perguntar: “Não, quem trouxe esse cara?” Mas não deu tempo porque eu precisava fazer prova – divertia-se ela.


E o carinha, de olhos abertos, se entregava àquele pesadelo. E andando, passou por um boteco. Passou... e voltou. Anestesiar o cérebro parecia a coisa mais lógica do mundo. Pediu uma pinga. O balconista olhou de modo engraçado para ele, estranhando um pouco o pedido vindo de um carinha como aquele, de mochila nas costas.
_Tem certeza?
_Ah? Do quê? – perguntou o carinha totalmente viajando
_Da pinga.
_Ah! claro. Prá dar uma esquentada, né?
_Claro... – e colocou o copinho de aguardente no balcão na frente do carinha.

Ele ficou ali, olhando através do líquido transparente, pensando, pensando...

_Hei, cê tá loki, é? Disse Meg abruptamente, tirando o carinha do transe.
_Isso aí é pinga mesmo? Cê tá querendo fazer o quê?
_Ah, me deixa Meg. Não tô no pique de sermão hoje.
_Cara, qual é o problema? Por que tá com essa cara de cachorro sem dono? Tá dodói, é? Já esqueceu o que aconteceu da última vez? Será que vou precisar dar umas baquetadas na sua cabeça, para você lembrar?

continua>

segunda-feira, novembro 17, 2003

Prá Pensar na Vida
Fim de semana incomum, o meu.
Impossível não parar para dar uma pensada.

Sábado à tarde, fui a um chá de bebê. Comemoramos a chegada da Giovana, filha da Regina. Em breve, ela estará correndo por aí.
Depois à noite, fomos a uma bodas de prata. Vinte e cinco anos de casamento da Claudete e do Ismael. Pego de surpresa, o filho Thiago disse umas palavras muito bacanas. Detalhe, ele é deficiente auditivo desde que nasceu, então, o simples fato de expressar-se verbalmente já é motivo de muita felicidade para o pais.
E mais à noite fomos ao aniversário do Martins, ou DJ Leandro como queiram. Dancei muito ao som de pérolas dos anos 70 e 80. Apesar da Cris achar que eu danço de um jeito muito engraçado (ou estranho), me diverti bastante. Inclusive, a última vez que dancei assim, foi há quase um ano atrás, também conduzido pelas pickups mágicas do DJ Leandro.
Domingo cedinho, nossa amiga Érika ligou dizendo que sua mãe havia falecido. Na semana retrasada, repentinamente, ela sofreu um derrame. Operou, parecia que estava reagindo bem, mas acabou sofrendo um outro derrame e infelizmente não teve jeito. Muito triste. A família foi pega de surpresa. Barra pesadíssima, que a Érika está segurando super bem dentro do que é possível. E o pai da Érika, Seu Tanaka, apesar de toda dor pela perda e da diabets nervosa que o judia, ainda conseguia ser uma das pessoas mais simpáticas que conheço. Desejo muita força prá eles.

E assim é a vida... todos os dias não é mesmo? Gente chegando, gente saindo, gente comemorando, gente sofrendo. O Milton Nascimento canta uma música que fala que a vida é como uma Estação de Trem. Ontem lembrei muito disso.

sexta-feira, novembro 14, 2003

Fui. Nem me viu.
Quem colou um adesivo desses no vidro do carro foi o Tempo. Definitivamente não estou conseguindo acompanhar mais o ritmo ditado por ele. Não tenho visto mais as semanas passarem e, igualmente, os finais de semana.
Não que eu esteja trabalhando demais ou esteja muito ocupado. Não, tenho feito minhas atividades normais. Mas ontem era segunda e hoje já é sexta?!
Como sou um ávido estudioso dessa matéria, pensei que talvez o tempo pudesse mesmo ter alterado o seu ritmo, mas como aconteceu para o mundo todo, ninguém de fato percebeu. Isso quer dizer mais ou menos o seguinte: imagine que se cada segundo de hoje equivalesse a 1,5 segundo do ano passado. Obviamente, tudo estaria passando mais rápido, mas sem referenciais, a gente não percebe. Nós, por consequência, estaríamos fazendo tudo mais rápido: andando mais rápido, falando mais rápido, os batimentos cardíacos estariam mais rápidos... e até os andamentos das músicas estariam todos mais rápidos.
Na prática, estamos vivendo como que dentro de uma grande performance do Markito no Programa Barros de Alencar.

n.e.: para os jovens leitores: Markito (o mesmo do Ratinho) se apresentava no Programa Barros de Alencar fazendo dublagens toscas com músicas em 45 rpm.

Post Novela – Cap V
Abraçados, cada um conseguia sentir o coração do outro batendo fortes, disparados. O carinha sentia uma ebulição de hormônios dentro dele, gritando pelo corpo de Clara. Aquela diretoria certamente não era dos lugares mais românticos para se fazer amor, mas seria impossível esperar. Quanto à Clara... ela simplesmente não pensava em nada, apenas ia dando vazão aos seus impulsos. Talvez as mulheres sejam menos racionais que os homens nesses momentos. Se sentem confiança, se entregam sem muitos questionamentos. A menos é claro que:

_Que barulho é esse? Perguntou Clara assustada
_Sei, lá.. sinos? Respondeu ele ainda meio tonto.
_É o sinal!!
_Um sinal de que quando amamos, ouvimos sinos??
_Não!! O sinal para aula! Para a prova!!
_Prova? Que prova? Não dá para fazer uma sub depois? Perguntou ele, quase gaguejando.
_Essa já é sub!!

Recolheu rapidamente suas coisas. Expulsou o carinha do gabinete, trancou, jogou a chave na gaveta e saiu correndo (em desabalada carreira, como dizem).

Ela não o esperou. Não se despediu. Apenas correu.

E ele ficou ali parado no meio do corredor daquela “bosta de faculdade”.

continua>

Melancolia artificial II
Ok, esses inputs pré-fabricados existem. Músicas e filmes tem mesmo esse poder de alterar nosso estado de espírito, se não ficarmos atentos. Mas também...
Podemos usar esses elementos a nosso favor. YES!!
Ontem, por exemplo, saí do trampo um pouco down... ok, deprê mesmo. Mas daí, graças a benevolência do R3x que me emprestou (finalmente...) o CD do Strokes e ao meu tocador de CDs, aquele estado de espírito caidão foi se alterando, se levantando. Quando chegou na conhecida faixa nº 7 “Last nite”, aí sim!! Eu já estava praticamente rebolando no fretado.
Depois fui assistir Matrix Revolutions (que merece um post a parte) e fechou. Já tinha até esquecido que horas antes eu estava meio blue.

Artificial ?... sim, um pouco. Mas depois de assistir Matrix também... isso não importa muito. E além do mais, melhor músicas e filmes, do que prozac, cocaína, whisky (a bebida, não o mega-popstar...).

Por isso, que tem viola, pega; quem não tem, canta e chacoalha:

C
Last night she said
---------------Dm
Oh, Baby, I feel so down
-------------G
Oh, and turned me off
-----------Em-------Dm
When I feel left out
----C
So I, I turned around
----------------Dm
Oh, Baby, I don't care no more
-----------G
I know this for sure
---------Em--------------Dm
I'm walking out that door

quinta-feira, novembro 13, 2003

Melancolia artificial
Gotas de chuva no vidro do ônibus... nos phones, "Time After Time" da Cyndi Lauper... o dia frio e cinza... Melancolia?
Aí que está: não. Essa imagem mental pode até sugerir melancolia, tristeza, mas não é real. Hoje de manhã, deparando-me com a cena acima, pensei por um momento que estava me sentindo triste. Mas não estava. Essa tristeza foi na verdade "fabricada", graças a todos os filmes e canções de amor a que fui exposto durante a vida. Minha mente ficou condicionada a ativar a "tristeza", ou "nostalgia", ou "romantismo" diante de certos elementos. Como diria o Rob Gordon de "Alta Fidelidade": a maior violência a que estamos expostos não são os filmes de guerra, policiais ou de ação. São os romances, os filmes e as canções de amor. As pessoas acham que são inofensivos, mas vejam só o estrago que isso causou e causa ainda nos corações e mentes de tiozinhos da minha idade.

quarta-feira, novembro 12, 2003

Esses humanos que circulam II
Menos tolerante, eu? É possível... mas esses humanos que circulam pela cidade a fora... vou te contar...

Ontem subia eu tranquilamente a rua Fradique Coutinho, quando, saindo de um prédio, um tiozinho de avental branco dizia para alguém que ficou lá: “..essa Marta tinha que mudar prá Argentina. Não casou com argentino? Então, muda prá lá...” Como coincidiu dele estar saindo bem na hora que eu estava passando, ele já emendou em minha direção: “não é mesmo?” e eu só pensando: “ai, ai, ai... esse tipo de papo é sempre perda de tempo... “ não por causa da política em si, que sim, é frustrante, mas porque, geralmente, é como discutir futebol. Tudo muito passional e imparcial. “Eu posso reclamar, porque não votei nela”, “Porque ela é uma sem-vergonha”, “Porque ela não presta”e por aí foi. Desta maneira, resolvi dar ½ trelinha a ele, a fim de descobrir o que a Dona Marta havia feito de tão grave e que me escapara. “Mar por que a Dona Marta tem-lhe incomodado tanto, meu amigo?” disse eu.

Se liguem na resposta: “Eu conheço essa pilantra há muitos anos... ela é dona de um prédio aqui atrás e conheço também o ex-marido dela, aquele nojento do Suplicy. Uma vez ele apareceu num sábado cedinho para comprar remédio e eu dei 10% de desconto para ele, que é a instrução que eu recebo do patrão. Daí o safado achou pouco o desconto, acredita? Ele é ladrão, rouba prá caramba e ainda quer mais desconto? É um f.d.p. mesmo.”

Tá, mas o que a Marta fez? Sei lá. Ele não disse. Mas o que isso importa, não é mesmo?

Por isso, o profético filho da Dona Marta já cantava nos anos oitenta: “esses humanos que circulam....”

terça-feira, novembro 11, 2003

Post Novela – Cap IV
_Mostrar o quê? disse ele, tentando se livrar daquela sensação incômoda.
_É surpresa, né? Mas não é nada demais...não vá criando muitas expectativas; é só uma coisa que eu acho que você gostaria de ver.
E foram andando pelos corredores daquela faculdade. Subiram alguns lances de escada, passaram pelos corredores de salas de aula. Ah... o cheiro de escola... inconfundível. Será que é a mistura de giz, com a madeira das carteiras e o desinfetante dos banheiros que produz esse aroma tão particular?

Seguiram andando e o zum-zum-zum foi lentamente ficando para trás. Chegaram a uma pequena sala de espera. Não havia mais cheiro de escola, mas cheiro de diretoria.
_Isso mesmo, aqui é uma das diretorias – disse Clara.
_Você me trouxe aqui para conversar com o diretor por causa de ontem?
_Acho que você vai pegar suspensão de pelo menos três dias...

O lugar estava todo vazio. A penumbra dominava aquele local de aspecto austero e antigo. Um sofá verde de couro; uma mesinha de madeira escura, toda trabalhada com entalhes na madeira ao centro. Sobre ela, alguns livros de arte e outro com a história daquela faculdade. Uma escrivaninha também de aparência antiga, com tampo muito lustroso, contrastava de modo engraçado com o monitor de computador tipo “slim” sobre ela. Ao lado da escrivaninha, a porta do gabinete do diretor.

_Aqui é a diretoria administrativa - explicou Clara - Depois das seis da tarde, não tem mais ninguém. E para o espanto do carinha, ela abriu uma das gavetas da escrivaninha e tirou uma chave.
_Minha prima é a secretária – disse ela com um sorrizinho maroto - O que eu quero te mostrar, está lá dentro. Só não vou poder acender muito as luzes para não dar bandeira.

Como era de se imaginar, o gabinete seguia a mesma linha austera e antiga da recepção. Uma grande escrivaninha com uma cadeira de encosto alto atrás. Uma pequena estante, dois abajures, uma pesada cortina na janela e nas paredes alguns quadros e...fotos.

Não dissemos ainda, mas o carinha é fotógrafo. Na verdade, assistente. Trabalha, há três anos, para um fotógrafo relativamente conhecido de São Paulo. Seu estúdio, em Vila Madalena, atende tanto o mercado publicitário, quanto o editorial. Mas o carinha tem se queixado ultimamente. Tem se sentido meio explorado: “arrumo cenário, luz, equipamento, enquadramentos, para ele chegar lá, apertar o botão, receber a grana e ficar com os créditos?” Ele sabia que tinha aprendido muito ali e era grato por isso. E se a situação havia chegado à esse ponto era simplesmente pela confiança que o fotógrafo oficial depositava no carinha.

_Outro dia, quando vim falar com minha prima, vi essas fotos e achei que você gostaria de vê-las.

De fato, o carinho gostou muito. Ficou meio paralisado até... olhando aquelas fotos em preto e branco que mostravam o centro de São Paulo no início do século XX. Ele era fascinado pelo centro. Adorava zanzar por lá. Tanto, que alugou apê em Santa Cecília. Aquelas fotos tinham uma característica diferente das que ele já havia visto sobre o centro. Elas não retratavam o lugar como o personagem principal. O foco não estava nas obras de Ramos de Azevedo, prédios ou viadutos, mas sobretudo nas pessoas. Homens de chapéu pareciam caminhar apressados já naquela época. Na porta de uma provável padaria, um provável português, de avental branco e longos bigodes sorria de modo acolhedor para a câmera. Uma criança usando roupas de marinheiro andava de mãos dadas com sua mãe. Essa criança, se estiver viva, já é bisavô...O carinha viajava ... olhando, imaginando a época, tentando desvendar de que maneira o fotógrafo havia registrado aquilo tudo, que equipamento teria usado, as dificuldades...

_Tinha certeza que você curtiria – disse Clara, com ares de vitoriosa.
_É demais mesmo...nunca havia visto este tipo de ensaio antes...- e olhando-a nos olhos - também nunca havia encontrado alguém como você... – disse aproximando seu rosto ao dela.

Já haviam se beijado antes. Mas agora, talvez envolvidos por uma outra atmosfera, foi diferente.

continua>

R3x & Friends na Estrela da Morte
A Aliança Rebelde continua infiltrando mais e mais agentes na Estrela da Morte. Sua missão, como se sabe, é encontrar e aniquilar Lord Darth Vader. Mas enquanto isso não acontece, os agentes da Aliança Rebelde procuram adaptar-se ao grande exotismo cultural reinante na EM.
Na EM, só prá dar um exemplo, não é permitido o uso de uma barbichinha abaixo do lábio inferior à la Gary Oldman em "O Quinto Elemento". Aí vcs vão perguntar: "mas quem diabos usa isso?". Bem, o agente Alex-Quin-Gon-J usava e foi educadamente convidado a removê-la. Também não são permitidos piercings no nariz e na sobrancelha e tatuagens muito aparentes não são recomendáveis. Corre a lenda de que o próprio Lord Vader se encarrega de "remover" indivíduos com essas características de sua folha de pagamento.
Mas de maneira geral, os agentes rebeldes infiltrados se ambientam muito rapidamente à EM. Em poucos dias, eles descobrem os melhores picos para o almoço, demarcam pontos de encontro e encontram as melhores trilhas para trekking nos verdejantes campos artificiais. Alguns até já tiram uma soneca no estacionamento de naves. E outros já descobriram a padoca espacial. Alguns já chegaram ao cúmulo de desenvolver técnicas para não mais serem ignorados pela tia que serve o café.
Quem não gostou nada dessa grande "invasão" foram os "morteanos", os antigos funcionários. Eles ainda olham atravessado para os forasteiros e fazem questão de recitar o "Manual de Normas da Estrela da Morte" ao menor sinal de comportamento fora do padrão.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Mais um besteirol americano
O "american way of life", especialmente no ambiente escolar, é um objeto constante de discussão e análise dos progenitores deste blog. Será que tudo aquilo que os filmes de adolescentes insistem em retratar é mesmo verdade? A busca constante da "popularidade", as discriminações, os craques do esporte, as agitadoras de torcida, os nerds, o rei e a rainha do baile... isso tudo tem mesmo toda aquele importância para os americanos?
A resposta é... sim.
Ontem, num programa do E!, os xaropes foram atrás de todos os "livros do ano" das escolas em busca das fotos das celebridades e, acreditem, foi bem mais fácil do que parece, pois existe gente que coleciona todos esses livros.
Entrevistaram então, alguns astros e estrelas e eles contaram sobre como tinha sido seu período no highschool. Todos sem exceção se encaixavam nos estereótipos citados acima. Brad Pitt, Charlie Sheen e David Duchovny, por exemplo, eram craques do esporte. Julia Roberts e Ashley Judd eram cheer-leaders. Drue Barrymore, assim como muitos outros, era do time dos "freaks". Tem também os "nerds" e os "wannabies", que guardam seus traumas até hoje. Alguns disseram que adoram ir a reencontros de turmas escolares, especialmente depois que viraram celebridades, pois podem se vingar daqueles que os discriminavam no passado. Uma atriz que eu não lembro o nome declarou: "É ótimo participar dessas reuniões e ver que aquelas garotas tão populares na época hoje estão gordas, cheias de filhos e com a sobrancelha por fazer... elas dizem: vc conhece o Brad Pitt? E eu: claro..." Depois emenda com sarcasmo: "e vcs, não! Isso é prá vcs aprenderem a dizer 'oi' quando passarem no corredor!".
É ou não é caso prá psiquiatra?

sexta-feira, novembro 07, 2003

Esses humanos que circulam
Por que as pessoas mentem, roubam, sentem inveja, raiva, matam? Tudo isso faz parte do repertório natural de sentimentos e ações do ser humano?

Devemos então reprimí-los?
Devemos deixá-los vir à tona?

Veja só, no tempo em que só quatro pessoas viviam na Terra, Caim matou seu brother Abel, que definitivamente era o cara mais presença do pedaço, pois seus pais (as outras duas pessoas) também já estavam cumprindo pena por crime cometido contra as leis vigentes.
Tá vendo? Depois que Abel morreu, fudeu. Só sobrou sangue-ruim no mundo.

quinta-feira, novembro 06, 2003

Post Novela – Cap III
_Comprei especialmente prá você – ele disse.
_Não vai achando que um brigadeiro qualquer, vai limpar sua barra não, viu, seu cara de páu? Disse Clara tentando parecer séria.
_E dois? falou, cínico.
_Cara, já inventaram o telefone, sabia? Era muito difícil avisar que não viria ontem?

Ele não sabia ao certo porque tinha feito aquilo e nem o que dizer à Clara agora. Na noite passada ele simplesmente foi se amoitando no seu apê, criando raízes, sendo agarrado pelas paredes, pela tv, pelo som...virando lentamente uma autêntica capa de sofá. Pensava no convite de Clara para sair com os amigos da faculdade dela e sentia cada vez menos vontade de se mexer. Ele queria vê-la, é claro. Queria muito que ela estivesse ali com ele, fazendo parte da mesma estampa da capa de sofá. E então, foi se entregando a essas fantasias...deixando a mente solta...viajando....sonhando...e dormindo.

_Foi mau, Clara.
_Mas por que vc não ligou? Fiquei te esperando um tempão...seu celular só dava caixa postal.
_Olha, não tem nem o que dizer.

E ficava tentando ganhar tempo para pensar em alguma coisa. Ele detestava mentir. Por outro lado, não queria dizer que simplesmente havia dormido, porque ela poderia interpretar como uma puta falta de consideração. O que não era verdade, mesmo porque, ele havia praticamente dormido com ela.

_Eu dormi.
_O quê??
_Eu sei que falando assim, parece que eu não estava a fim, e não é isso...acho que porque ontem trabalhei até tarde... e estava mais cansado do que imaginei e..
_Tá bom, tá bom...interrompeu ela.
_Não, eu sei que foi mancada...
_Sabe, assim fica difícil...acho que só vai ter um jeito mesmo...disse ela com cara séria.
O coração do carinha gelou. O mundo parou. Os relógios pararam. Todo zum, zum, zum, da rua, na frente da faculdade se calou. Todas as luzes se apagaram e um foco de luz surgiu sobre Clara.
_Você vai ter que comprar brigadeiro em outro lugar...esse aqui não tá legal...viu como o granulado tá duro?

E ele pôde soltar a respiração. De que planeta veio essa garota? Por que ela gostava dele? Pensava nisso, sentindo um calor aconchegante no peito junto com um contentamento que nunca havia experimentado, até que: foi subitamente acometido por uma espécie de angústia muito forte... angústia em perdê-la.

_Hei, volta prá Terra. Vamos indo... quero te mostrar uma coisa, disse ela pegando o carinha pela mão.

quarta-feira, novembro 05, 2003

A vida é um vídeo-clipe - III
Strokes nos phones também cai demasiado bem numa manhã em São Paulo. Se um dia eu for a Nova York, tenho que levar esse disco.

terça-feira, novembro 04, 2003

A vida é um vídeo-clipe - II
Quer sentir a veia da testa saltar? Ouça a versão de Nuno Mindellis para "Castles Made of Sand" fazendo um vôo panorâmico sobre fotos antigas espalhadas pelo chão.

Post Novela – Cap II
Sim, Clara tinha beleza acima da média. Aquele tipo que chamava a atenção por onde passasse. Sua prima Meg, baterista “que tocava que nem homem”, confidente e melhor amiga, dizia que ela era bonita “de dar raiva”. Mas Clara parecia não ter muita consciência disso. Dizia que os homens sempre olham para qualquer mulher, "basta usar saia" e que se passasse algum escocês em trajes típicos, muito homem chamaria de gostosa...
Loira, alta, grandes olhos cor de mel. Normalmente não se vestia com muito apuro, era bem despojada. Mas quando o fazia...rapaz...era uma experiência perturbadora para as outras pessoas andar com ela na rua, tantos eram os pescoços quebrando ou os gracejos explícitos. Mas ela parecia realmente não ligar. De uma forma que ninguém entendia, aquilo não a envaidecia. E aquele carinha franzino, era apenas mais um de sua legião de fãs.

Ele era um fã e Clara representava praticamente a realização de um sonho. “Como uma garota daquelas pode dar bola para um cara como eu?”
Por que? ele não era atraente? Bem, ele era daqueles carinhas que fica difícil dizer se são bonitos ou feios. Talvez nem um, nem outro. O cabelo crespo e escuro, cortado rente, contrastava de maneira interessante com sua pele muito branca. Os olhos castanhos pareciam sempre um pouco tristes, mesmo quando sorria. O porte não era dos mais atléticos e ele realmente não era muito ligado à esportes. Herdou do pai, o time São Paulo e era o pior esteriótipo do torcedor deste time: desencanado, raramente se interessava. Mas gostava de assistir jogo na TV, junto ao pai. Muito mais pela companhia, do que pelo time. Agora que havia saído de casa, procurava cultivar esses momentos. Talvez para se sentir menos culpado.

Mas voltando ao aspecto físico, se você o visse na rua, provavelmente ele passaria despercebido. Engraçado como muitas vezes, a imagem mental que fazemos de alguém está muito mais ligada à sua personalidade, do que a apenas atributos físicos. Pessoas que nos parecem bonitas à primeira vista, com o passar do tempo e do nosso conhecimento sobre elas vão enfeiando...e outras que vão nos conquistando, vão embonitando...

E aos olhos de Clara, aquele carinha franzino de olhos tristes, ia embonitando devagarinho. Até suas constantes mancadas iam conferindo, junto à ela, um certo charme...

continua>

segunda-feira, novembro 03, 2003

Post Novela – Cap I
Estava com mais de vinte e menos de trinta aquele carinha. Talvez, por ser franzino, diziam que tinha cara de moleque. Ou talvez por conservar um comportamento meio rock and roll de vestir, falar e claro, ouvir.
Quando Clara se deu conta, o carinha estava parado bem na sua frente. Jaqueta jeans surrada, com pins de guitarras e golas viradas prá cima. Nos ouvidos, fones. Na sombrancelha, um pequeno piercing. Nas costas, a inseparável mochila. E na boca, um grande brigadeiro. Comia com cara de gozo aquele doce, um de seus preferidos. Um sorrizinho no canto da boca lhe escapava.

_ Seu sacana, não vai me dar nem um pedaço?? – disse Clara.
Rapidamente, ele enfiou o resto do brigadeiro na boca e disse, quase engasgando:
_Acabou. – E soltou sonora gargalhada.
Mas antes de Clara esboçar uma reação (um chute talvez), mais parecendo um pistoleiro daqueles antigos filmes de cowboy, ele sacou do bolso de sua jaqueta um outro brigadeiro, cuidadosamente embrulhado em papel celofane.

Apesar das mancadas que dava com Clara, sempre era capaz desses pequenos gestos, que iam, pouco-a-pouco cativando-a. Quanto a ele...O carinha se sentiu cativado desde a primeira vez que pôs os olhos nela...Ele, e toda torcida do Corinthians.

continua>

A vida é um vídeo-clipe
Caminhando com meus agora inseparáveis headphones, minha vida virou um grande vídeo-clipe...
Hoje de manhã ouvindo Paralamas no fretado, por uma fresta na cortina eu via o mundo cinza e molhado lá fora...e o Herbert me dizendo: “...cuide bem do seu amor...seja quem for...” A música, a paisagem, eu...tudo casando perfeitamente...imagens, sons e sentimentos...
Semana passada, estava caminhando lá em Down Town Sampa, e um Ira! (Música Calma para Pessoas Nervosas”) comendo solto na minha vitrolinha...quando o Nasi começou a me dizer: ..”saiu de casa, é prá correr perigo. Pegou o carro, é prá correr perigo. Andou a pé, é prá correr perigo...” E dá-lhe guitarras furiosas do Edgard...mais uma vez: just perfect.