terça-feira, setembro 30, 2008

Dois Gigantes

Nos últimos dias, dois gigantes partiram para a outra dimensão: um deles é o Gigante Brasil, baterista que tocou com muita gente da MPB, entre eles, Gil, Caetano, Itamar Assunção (com a banda Isca de Polícia que eu vi tocar algumas vezes e que era muito bom) e Marisa Monte. Com esta última, foi ele quem fez os vocais de "Ensaboa" do disco "Mais".

O outro gigante que partiu é mais do norte... da América. O Paul Newman. Butch Cassidy, Golpe de Mestre, A Cor do Dinheiro, Estrada para Perdição e tantos outros filmes que ele fez em mais de 6 décadas de carreira. O cara ainda tinha uma empresa de comidas enlatadas e uma equipe de carros de corrida (ele mesmo correu até o 80 anos).
Uma das coisas que me chamou a atenção nos comentários sobre sua morte é que ele sempre era muito humilde em relação a própria importância e que se sentia um cara de muita sorte em ter a vida que tinha e talvez por isso mesmo, fazia enormes doações à caridade.

Uma coisa que sempre lembro é que ele e o Robert Redford eram muito amigos e sempre faziam umas sacadinhas insanas um com o outro. Entre muitas, houve uma vez que o Paul Newman mandou imprimir a foto do Robert Redford em milhares de rolos de papel higiênico e o Robert Redford por sua vez, comprou um Porche todo amassado e mandou entregar na casa do Paul Newman. Friends...

Boa passagem pros gigantes.

segunda-feira, setembro 29, 2008

A Teoria do Abraço

Já havia escrito sobre isto (Outros códigos sonoros - jeito de falar) há algum tempo e agora por causa do Seu Malta, retomo o assunto.

É que outro dia, estávamos assistindo uma apresentação onde ocorria uma simulação de atendimento telefônico. Ao final da ligação, a pessoa disse para à que estava do outro lado da linha: "Grande abraço!" Depois, realiza uma nova simulação e dispara mais um "grande abraço!" para a mesma pessoa... O Seu Malta fica particularmente intrigado com o "grande". Afinal, qual o tamanho do seu abraço: P, M ou G?
Meu incômodo com esse tipo de coisa é na forma automática que as pessoas o utilizam. É quase um sinônimo de "tchau". Na minha opinião, o abraço é uma manifestação de apreço bastante física para ser transmitida por telefone, mas a intenção é o que importa. No texto escrito da era pós-internet, virou praticamente assinatura de e-mail, né? - ab, abs, abraço!! ou até um "abraçada molt fortta" como diz o Whisky.

Agora, por que ninguém manda "um grande aperto de mão!" ? Seria engraçado... daí as conversas poderiam ficar assim: "Tchau, um grande aperto!" ou então: "Olha, se você encontrar a Mariana, manda um apertão prá ela, viu?" Na internet seria "ap" ou "aps".

Mas voltando ao abraço, seja qual for o seu estilo: abraço-quebra-costela, abraço-de-urso, abraço de ladinho, abraço-tapinha-nas-costas, o importante é que seja sincero e de preferência, ao vivo.

Um abraço no seu coração.
(disponível apenas para cirurgiões cardíacos ou ténicos do IML...)

quarta-feira, setembro 24, 2008

As aventuras de Johny X - Cap V

_Cê tá lôco, é? - disse Gilson, olhando nervosamente para os lados enquanto puxava Johny para dentro de casa. - Tá querendo me fuder, é?
_Eu? Tô querendo te fuder?? - berrou Johny - Tem dez dias que eu tô com medo da minha sombra e você vem me dizer que eu tô querendo te fuder?
_Vê se fala baixo, senão a ...
Nem terminou de completar a frase quando uma garotinha de vestido azul claro e maria-chiquinhas apareceu e já foi falando:
_Quem é, papai?
_Não é ninguém. Vai brincar lá dentro agora, tá bom? disse Gilson.
_ Ninguém? Como assim, ninguém? Eu tô vendo ele... - disse a garotinha franzindo as sobrancelhas.
_ Jéssica! Papai falou prá você ir prá dentro agora!
E lá se foi a pequena, toda contrariada.

_Você não tem noção... se alguém te vê aqui, eu tô ferrado. Você não podia ter feito isso cara, não podia.
_E você queria que eu fizesse o quê? Ficasse de braços cruzados esperando alguém me pegar, ou então ficasse esperando por algum outro recadinho bacana seu?
_Ah, por que eu fui me meter?... Agora vou arrumar prá minha cabeça também. Que vacilada...
_Olha aqui, eu já tô de saco cheio dessa história. Ou você me fala logo o que tá acontecendo ou eu não te dou mais sossego. Cê tá entendendo?
_ Caralho... - suspirou Gilson. Sabendo que não haveria jeito, começou a desenrolar o novelo:
_ O negócio é o seguinte: Um tempo atrás, vieram perguntar para um motoboy conhecido meu se ele sabia de alguém para fazer um "serviço", tá ligado? Então ele disse que não mexia com essas coisas e fim de papo. Só que daí ele ficou sabendo que esse mesmo cara foi procurar outro motoboy, que a gente sabe que tá metido com uma pá de rolo. Certamente esse aí conhece gente de sobra prá fazer esse trampo.
_ Tá bom, já entendi, o "serviço" sou eu, agora quem é que está contratando e por que?
_Não conheço. Mas ele também está sendo pago por alguém, ou você acha que o cara que quer te apagar vai sair por aí, perguntando quem faz o trampo?
_ Ok, mas por quê foram procurar logo por vocês?
_ Porque a gente já tem um certo acesso ao seu trampo, tá ligado? Fica bem mais fácil.
_Mas você não tem idéia de quem possa estar armando isso?
_Sei lá, cara. Você que tem que saber dos seus inimigos...
_ Inimigo? Eu não tenho inimigo, cassete. - se desesperava Johny.
_Ah, não? E esse aí, é o quê? Mano seu? De qualquer forma, se fosse prá dar um chute, eu diria que é alguém do seu meio... algum bacana aí do seu trampo, da sua família, sei lá. É alguém que tá perto. Como eu disse por telefone, o caso é de trairagem pro seu lado... alguém que tá se fazendo de muito amiguinho seu e tá só esperando para dar o bote.E foi só por isso que resolvi te dar esse toque. E já me arrependi...
_Maravilha... fico bem mais tranquilo... Porra, eu não mexo com ninguém, só fico na minha...
_Mesmo ficando na sua, parece que tá incomodando, né?
_Pelo jeito sim... Bom, até você que nem quer me matar, tá incomodado, né? Eu também te fiz alguma coisa?
_Fora esse jeito de playboy folgado, que se acha melhor do que os outros?
_E por isso alguém quer me matar?
_Sei lá, o que você andou fazendo para estarem querendo te apagar. Agora, uma coisa é certa, a vida não é só esse mundinho que você acha, não... Você é muito sem noção. Não é tudo nessa vida que se compra, tá ligado?
_É... tranquilidade, por exemplo.
_Você não viu nada, playboy...

>>continua

segunda-feira, setembro 22, 2008

Ah, é? Beleza, então vamo aí

Foi isso que a Pitty disse ao seu amigo, um produtor musical, quando ele a convidou para gravar algumas músicas que ela havia feito. Danada, essa menina da terra do Raul Seixas.

E quem tiver a oportunidade de assistir o programa "Que Rock é esse?" no canal Multishow, vale a pena.

Seria engraçado, se não fosse profundamente triste II

A coisa tá tão feia, o cenário político tá tão trash, que nas propagandas eleitorais do Alckmin e do Kassab, ambos ficam inserindo umas imagens ao lado do Serra, num contexto tão forçado que chega a ser vexatório para os três. Tudo para transmitir ao eleitor que eles tem o apoio do Vampiro Brasileiro. E daí fica uma briga através da imprensa, com alguns Tucanos dizendo que o Picolé de Chuchu deveria atacar a Marta e não o Kassab (que tem vários Tucanos na sua administração). Se o PSDB não queria apoiar o Alckmin porque permitiu que ele saísse candidato? Eu que sou um petista órfão (como muitos) estava pensando em votar no Alckmin. Mas votar nele, significa votar no Campos Machado para vice...

Aí, já é demais.

segunda-feira, setembro 15, 2008

As aventuras de Johny X - Cap IV

Nos documentos oficiais, a cor de Gilson estava definida como "parda". Não gostava que o chamassem de Gil, Gilsão, ou qualquer outra coisa que não fosse Gilson. "Não tá escrito Gilson, aqui no papel? Então é Gilson." Um ralo bigode cobria seu lábio, semblante quase sempre fechado, de poucos amigos. E realmente eram bem poucos, os amigos daquele sujeito que só pensava em trabalhar (muito) para poder dar um futuro melhor que o seu próprio à sua filhinha Jéssica de dois anos. Normalmente, era o primeiro a chegar e o último a sair naquela empresa de entregas onde trabalhava. Não hesitava em aceitar inclusive aqueles serviços que eram solicitados perto do horário de ir embora e que atrasavam ainda mais sua volta para casa. Atrasavam o seu reencontro com a pequena Jéssica.

Naquele domingo de sol, quando tocaram a campainha da sua casa, ele não acreditou no que viu, ou melhor, em quem viu parado em frente ao pequeno portão de sua casa.

....................

Na quinta-feira anterior, Johny havia tomado uma decisão: iria começar a se defender de um modo um pouco mais ativo. "Dizem que a melhor defesa é o ataque, então... E mesmo porque, se eu não fizer alguma coisa, vou pirar." pensava o jovem executivo. Estava cansado de todo aquele estresse, toda aquela tensão. Continuava fazendo itinerários diferentes e variando os horários. E continuava com os nervos a flor da pele. Nesse dia, avisou a secretária que não estava se sentindo bem e que não trabalharia pelo menos na parte da manhã.

Tomou banho e desceu até a portaria do prédio.

_Tudo bem, Dalvair? Perguntou ele
_Tudo em paz, Seu Johny. Não recebeu a revista de novo esta semana?
_Não, tá tudo certo com a revista. Tenho recebido normalmente. Eu queria te perguntar uma outra coisa: Na terça-feira, colocaram de baixo da minha porta um envelope. Você sabe quem entregou?
_O senhor quer saber quem aqui do prédio que entregou no seu apartamento?
_Não, eu quero saber de onde veio.
_Olha, Seu Johny, é provável que tenha sido entregue na parte da tarde, para o outro porteiro, o Josenir.
_E fica algum registro do que chega?
_ Só no caso de Sedex, ou outro tipo de carta registrada.
_Sei... e que horas chega o Josenir?
_Ele entra ao meio dia.
Johny olhou seu Bullova, eram 9:30h. Teria que esperar. Pelo jeito também não trabalharia na parte da tarde.

Voltou ao apartamento. Abriu seu Notebook. Em uma página em branco do Word, começou a digitar tudo o que podia se lembrar, desde aquele primeiro contato telefônico. Foi anotando tudo: o que lembrava de concreto e literal e também algumas impressões mais subjetivas: "voz agressiva"; "gíria de marginal"; "tom de ameaça";"traição";"morte".
"Morte", será que era isso que o aguardava? "Se for, não vai ser de graça", pensou. Foi juntando tudo na cabeça quando veio o estalo:
_Lógico! Esse cara não quer me matar. Primeiro, porque quem quer fazer alguma coisa não manda recado e segundo, porque ele sempre fala que "vão me pegar". Esse tom agressivo me confundiu, mas definitivamente "esse aí" não quer me matar. Bom, mas quem quer, então?

Ele entendia cada vez menos. E aquela manhã de quinta simplesmente voou. O porteiro da tarde já deveria ter chegado. Johny desceu sem muitas expectativas. Explicou a história toda e o porteiro disse:
_Fui eu que recebi sim. Um motoqueiro entregou e pediu para deixar no seu apartamento com urgência. Até pedi para o Geraldo da faxina colocar embaixo da sua porta.
_Mas como era esse motoqueiro? Você lembra o nome da empresa? Perguntou Johny, quase desesperado.
_Aí fica difícil, hein Seu Johny... Esses motoboy é tudo igual... macacão preto, capacete...
_ Josenir, eu preciso muito de qualquer pista que me ajude a saber de onde veio esse motoboy. Pensa com carinho, que você garante sua cerveja no fim de semana.
_Que é isso, Seu Johny, é sempre com satisfação que a gente procura ajudar...
_Tá bom, eu agradeço e esse lembrar de alguma me avisa urgente, ok?
_Pode deixar.

Johny mal abria a porta do seu apartamento, voltando da conversa com o porteiro, quando tocou o interfone:
_Seu Johny, lembrei de uma coisa. Como ele parou com a moto aqui em frente, deve ter sido gravado pela câmera de circuito interno. Eu liguei para o pessoal da segurança e eles vão mandar o CD com as imagens ainda na parte da tarde.
_Valeu Josenir, não vou esquecer da cerveja.
_Que é isso, seu Johny...

Rapaz, impressionante como as pessoas ficam eficientes quando estão "motivadas"...

Assim que recebeu o CD, já foi colocando ansiosamente no notebook. Os capítulos estavam separados por horário, começou a assistir as imagens gravadas depois das doze horas. Viu de tudo, empregadas domésticas batendo papo com os porteiros, entrega de móveis, de flores, um entre e sai de pessoas até que "bingo!", um motoboy carregando um envelope já bastante conhecido. Era um motoqueiro como outros milhares na cidade de São Paulo, descia da moto, conversava alguma coisa com o porteiro e deixava um envelope. Johny assistiu algumas vezes o trecho e nada. Nada que o ajudasse a ter alguma pista sobre o motoqueiro. Lembrou de alguns filmes que assistiu, onde o policial amplia e movimentar a imagem com total nitidez... Pura ficção, mal conseguia distinguir as imagens tal como estavam... Já estava quase desistindo quando bem no canto da tela, notou que aparecia um pedaço do baú da moto e neste, com algum esforço podia se ler alguns números telefone. Na verdade, estava faltando os últimos dois números. Bom, - pensou Johny - vai dar um trabalhinho, mas com um pouco de sorte, não vou demorar muito.

Depois de muitos "Desculpe, foi engano", Johny conseguiu o que queria:
_Fast Service Entregas, boa tarde. Disse a recepcionista do outro lado da linha.
Ele levou um susto e desligou rapidamente. Fast Service era a empresa de entregas contratada da corretora onde trabalhava. Voltou para a fita, agora com outros olhos, tentando reconhecer o motoqueiro. O ângulo não favorecia... até que: "o capacete!!. Com certeza, já tinha visto antes aquele adesivo de caveira no capacete. Ligou para Rose na corretora.

_Oi, Rose, tudo bem?
_Tudo. Você tá melhor?
_Melhor? Ah, tô sim obrigado. Deixa eu te perguntar uma coisa: Você conhece aqueles motoqueiros que prestam serviço prá gente?
_Como assim, conhece?
_Sabe o nome, pelo menos?
_De alguns sim.
_Conhece um que tem uma figura de caveira no capacete.
_Ah, tá... um que parece que tá sempre bravo? Acho que o nome dele é...Gilson! Isso mesmo. O cara chama Gilson.

>> continua

sexta-feira, setembro 12, 2008

Seria engraçado, se não fosse profundamente triste

O Nito já postou sobre isso no blog dele. E há tempos penso em desabafar aqui minha desesperança. Estou falando sobre a falta de noção sem limites (e preparo, o que é bem pior) da imensa maioria dos candidatos das próximas eleições, seja em aqui em São Paulo, em Olinda, ou no Rio.

Aqui na sofrida Sampa, só para dar alguns poucos exemplos, temos o Dinei ("Corinthiano, vota em Corinthiano, fui"), o Sérgio Malandro, o filho (clone) do Enéas, o Tio do Táxi e por aí vai... Sem dúvida, os mais grotescos, são os candidatos para vereador, mas os para prefeito, não ficam atrás não... Creio que só o fato do Paulo Maluf se canditar mais uma vez, já é uma tremenda piada de mau gosto. E o Levi Fidelix? Que há pelo menos quatro eleições, só fala do "Aerotrem"?. A impressão que tenho é que estão realmente todos rindo da nossa cara. Não têm a menor vergonha em se apresentar de maneira esculhambada, tentando serem engraçados, transformando o processo eleitoral em circo de horrores.

Se alguém votar no Sérgio Malandro e o cara for pego em alguma "malandragem" vai reclamar como? O cara já está avisando no nome dele...

Sinto uma tristeza sem fim, quando penso que essas são as pessoas que vão exercer influência na vida de milhões de pessoas. Que Deus nos ajude.

quinta-feira, setembro 11, 2008

As aventuras de Johny X - Cap III

_Telefone público em Diadema?? É claro... o cara não usaria um telefone que pudesse ser localizado - lamentava Johny, cada vez mais angustiado.

Ele realmente não sabia o que fazer. Estava totalmente desnorteado. Pensou em ligar para a polícia: "Mas vou dizer o quê? Que alguém me ligou avisando que vão me matar? E eles vão poder fazer o quê? Provavelmente dizer que foi trote. O que também é possível..."
Ficou pensando em quem dos seus conhecidos, teria mau-gosto suficiente para fazer uma "brincadeira" dessas. Ninguém lhe ocorria. Achava que mesmo os mais sacanas do departamento, que já haviam providenciado pegadinhas com drag queens e outros trotes, não fariam uma coisa dessas. Mesmo eles... E depois, havia uma autenticidade naquela voz, uma quase raiva, que ator nenhum conseguiria interpretar. Além disso, o telefonema ocorreu no começo da manhã e agora o dia já estava acabando... se fosse piada, o autor já teria aparecido para tirar uma da "cara pálida" dele.

Tentou organizar as idéias e pensar em alguém que pudesse ligar e pedir uma opinião. Luca, seu melhor amigo, havia viajado para a Patagônia. Pensou em ligar para a sua mãe, mas não quis preocupá-la. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se sozinho e não tão auto-suficiente como imaginava que fosse. Alguém estava de olho nele há algum tempo e ele não sabia quem e nem porquê, se é que essas coisas precisavam de motivo...

Sete e meia, oito. Oito e meia da noite e ele ainda estava no escritório. Até o pessoal da faxina já havia ido embora e ele ainda continuava lá, enrolando, com medo de voltar prá casa. Ficou pensando no que fazer. Decidiu mudar o caminho, para despistar. Depois, cogitou passar a noite em um hotel. "Pera lá, assim também já é demais."

Respirou fundo, tomou coragem e decidiu ir para casa mesmo. Pegou o elevador e desceu até a garagem onde estava seu carro. Já passava das nove da noite e a garagem estava praticamente deserta e muito pouco iluminada. "Droga", pensou. Viu seu carro solitário na outra ponta do estacionamento. Esperou um pouco, deu uma boa olhada em volta e disparou a correr. A sola de madeira do seu sapato ecoava pela garagem. Destravou a porta do carro a certa distância, abriu, jogou sua pasta no banco do passageiro e trancou as portas. Suspirou de alívio e de cansaço pela corrida. Seus níveis de adrenalina estavam quase baixando quando seu coração quase sai pela boca. Uma batida no vidro do seu carro. "É agora", ele pensou.
Mas não era. Gilmar, o zelador da garagem, "ouviu" a corrida de Johny e foi verificar se estava tudo bem. '"É que estou meio atrasado", disse meio sem jeito. "Acho é que estou é ficando paranóico...", pensou.

Por via das dúvidas, fez outro caminho. Dirigia com a respiração presa de tão tenso que estava. Olhava constantemente para os lados e não parou em nenhum sinal vermelho. Quando avistou, ao longe, o prédio em que morava, sentiu um grande alívio.

Buzinou discretamente para o porteiro. Mais para chamar sua atenção do que propriamente para cumprimentá-lo. Outra garagem. Essa pelo menos estava iluminada e a sua vaga ficava mais próxima ao elevador. Subiu. Destrancou a porta. Quando acendeu a luz, notou um envelope no chão. Achou que fosse propaganda de alguma coisa, as pizzarias delivery faziam isso constantemente no prédio. Mas não era propaganda, nem de pizzaria, nem de algum político pedindo votos. Dentro do envelope havia uma carta, feita em computador e, pelos pequenos borrões, impressa em alguma antiga impressora jato de tinta. A carta dizia:

É, playbói vacilão, a casa vai cair prá você, se não ficar esperto. Nem sei porque tô te dando esse toque, porque otário que nem você tem que se fudê mesmo. Fica aí no seu mundinho, totalmente sem-noção que armou a sua volta, que nem tem idéia de qual é a real da maioria das pessoa. Eu só tô perdendo meu tempo com você, seu mané, não é de pena, não... é que tem um lance que me faz o sangue subir mais que tudo na vida, que é trairagem. Vou te avisar de novo: se liga, seu bosta.

Johny sentou no seu sofá iraniano. Não tirou a gravata, nem os sapatos - sua primeira providência, sempre que chegava em casa - não buscou a garrafa do seu xará Johny Walker, nem ligou sua tv high definition ou seu super aparelho de som. Ficou apenas sentado, imóvel, paralisado, horas a fil, pensando o que havia feito de errado para merecer aquilo.

continua >>

quarta-feira, setembro 10, 2008

As aventuras de Johny X - Cap II

O mercado estava calmo aquele dia. Na verdade, aquela semana. O dólar oscilando pouco, com tendência de baixa; o risco Brasil caindo e o índice Bovespa em alta conferiam ao adrenalizado trabalho de Johny uma calma incomum, quase monótona para ele. Mas não demorou muito para a calmaria se transformar em tempestade.

_Johny, você atende a três? Perguntou a secretária com voz estridente.
_Rose, você sabe que eu tô operando, agora não dá, né?
_Eu sei, mas o cara disse que é importante, tava meio nervoso.
_Mas quem é afinal? - se irritava ele, segurando dois telefones e com os olhos grudados no monitor.
_Ele não quis dizer.
_Ô, meu saco.... Cadê o Buzina? Fala prá ele continuar aqui prá mim.
_Demorô, Johny - Não se fez de rogado, o estagiário de apelido Buzina, que apareceu do nada.

Johny foi até a pequena mesa redonda de reunião e fitou o aparelho KS por alguns instantes. O número três piscando... não soube o porquê, mas sentiu um pequeno frio na barriga.
_Alô - disse ele tentando demonstrar naturalidade.
_Prá quem tá perto de virar presunto, cê tá bem sem-pressa, né, playboy? Disse a voz meio abafada do outro lado da linha.
_Quem tá falando?
_É... Senhor Johny... Vai pegar sua moto de bacana amanhã, depois vai naquela academia de bacana à noite... Tá achando que tá bem na fita, né, pleiba?
_Quem tá falando? Não tô achando graça nenhuma.
_Se liga, mané, que tão querendo fazer a sua - e desligou o telefone.

Johny se sentiu um pouco zonzo. Que estava acontecendo afinal? Olhando para o vazio da mesa, tentava se acalmar e colocar as idéias em ordem. "O cara me ameaçou, disse que eu vou virar presunto, mas não pediu nada..." refletia ele desesperadamente.
_Rose, tem como saber o número do telefone que me ligou agora pouco? gritou ele para a secretária.
_Vou ver com o pessoal da telefonia e te falo. Nossa, cê tá pálido. Tudo bem?
_Claro - disse ele tentando disfarçar - Vê se consegue o número prá mim, tá?
_Tá bom.

Pela sua mente passava um turbilhão de coisas: assalto, seqüestro, morte, dúvidas, "por que eu?", tudo se agitava na sua mente. Então, lembrou de algo nada animador. Não havia comentado com ninguém sobre a Harley. Não que ele não quisesse ter falado, mas realmente não teve oportunidade. A conclusão mais óbvia era que havia alguém seguindo seus passos. E esta sensação de invasão e impotência era a coisa mais horrível que ele já havia sentido na vida.

_5555-1214 - disse Rose - Esse é o número que ligou para você. Quer dizer, não é que o número ligou para você, mas a pessoa... Cê entendeu, né?
_Não, eu não estou entendendo mais nada, Rose. Mais nada.

continua>>

terça-feira, setembro 09, 2008

As aventuras de Johny X - Cap I

Desde muito cedo João Xavier da Costa resolveu mudar de nome. "Além de sem-graça, esse nome parece de algum personagem da história nacional ou então de João Ninguém...".

Na adolescência, alguns amigos começaram a chamá-lo de Johny, apelido que logo abraçou e incorporou.

_Parabéns, João. Bem-vindo ao clube Harley-Davidson. Sua moto será entregue em dez dias.

Ele não se incomodou em desembolsar mais de setenta mil reais pela moto. Ouvir seu nome "oficial" incomodava muito mais...

Na corretora de valores onde trabalhava, poucos sabiam seu verdadeiro nome. "Nome é uma coisa muito importante para que a gente delegue isto para outras pessoas, mesmo que sejam seus pais...". E ia além: "Deveria haver uma lei que determinasse que as pessoas a partir de uma certa idade, poderiam adotar um nome diferente daquele de batismo." A vaidade encontrava terreno amplo e fértil naquele paulistano de 35 anos, bem sucedido profissionalmente, solteiro ("liberdade é tudo") e regido pelo signo de Sagitário ("liberdade é tudo").

Morava em um apartamento modernoso - na verdade, um Loft - na região de Perdizes - perto das baladas da Vila Madalena e perto do seu time, o Palestra Itália. Naquele apê espaçoso para só uma pessoa, artigos caros eram fartamente encontrados: eletro-eletrônicos de última geração assinados pela dinamarquesa Bang & Olufsen, quadros de pintores da moda, sofás importados da Bélgica, tapetes iranianos. Qualquer um que entrasse naquele apartamento, saberia que ali vive alguém sofisticado. E que gostava de deixar isso bem claro.

Naquela segunda-feira, quando saiu de casa, gel no cabelo, gravata Hermè, rumo ao trabalho na Av. Faria Lima, pensou: "Esta é a última semana de perder tempo no trânsito. Mais alguns dias, eu pego a Harley e tudo vai ser diferente." E já contabilizava de que maneira aproveitaria o tempo extra.

Mas na vida, as coisas nem sempre caminham como planejamos. Muitas vezes, determinadas coisas simplesmente acontecem... E mudam tudo.

continua->

As aventuras de Johny X - Introdução

Apesar do R3x dizer (e com razão) que reciclar posts é fácil, me atrevo a cometer este pecado... (de novo).

Peço paciência de quem por ventura já tenha lido, mas vou republicar uma história em capítulos que estava escrevendo em 2004 e que acabei abandonando. A minha idéia é que agora, munido de gás novo, possa melhorá-la e concluí-la.

Engraçado, porque neste intervalo, surgiram o livro/filme: "Meu nome não é Johny"... O personagem da história a aseguir, ao contrário do primeiro, quer sim, ser chamado de Johny. É que ele é um tanto quanto metido... mas a vida costuma ensinar, uma hora ou outra, que não é assim que rolam as coisas...

Receber sua opinião, crítica, ou sugestão, seria ótimo.

segunda-feira, setembro 08, 2008

De novo, sobre o tempo - que passa até para a Turma da Mônica - II

Confesso que essa novidade não me chocou negativamente, até porque as histórias da Turma da Mônica pequenininha continuam, trata-se apenas de um produto a mais na prateleira.

O que me decepciona bem mais é o jeitão que andam as histórias da Mônica atualmente. A linguagem mudou muito e a busca incessante do sr. Maurício de se aproximar dos mangás descaracteriza o que (prá mim) é a grande marca desses personagens: os olhos grandes.

Em algumas expressões de susto ou raiva, agora aparecem aqueles olhos esbugalhados feitos de uma bolinha preta dentro de um ovo branco, uma coisa muito primária comparada ao estilo original.

Isso, aliado ao novo estilo de texto, me incomoda deveras e tira muito do prazer de folhear uma revista novinha, recém-tirada da banca.

Pode ser só uma questão de saudosismo de um tiozinho que lia Turma da Mônica nos anos 70?... Sim, pode. Mesmo assim não deixo de me preocupar, já que tá chegando a vez dos meus filhos lerem essas histórias.

Palavras, muitas palavras...

Longe de mim se achar algum entendido da língua portuguesa, até porque desconheço ou tenho dúvidas de conceitos bem básicos na construção destes testículos. Mas nem por isso, deixo de admirar a língua de Camões. Semana passada mesmo, aprendi um outro significado para uma palavra que já conhecia. E este novo significado (para mim) é tão diferente do outro que até me inspirou a escrever esse post.

Bom, a palavra é escatologia e o significado que eu conhecia era aquele ligado aos excrementos... tipo assim, o cocô.
Agora, o outro significado, vejam só, é: "doutrina que trata do destino final do homem e do mundo", segundo o Houaiss.

Só espero que a relação entre os dois significados não seja que o destino final do segundo seja o primeiro...

sexta-feira, setembro 05, 2008

De novo, sobre o tempo - que passa até para a Turma da Mônica


Agora, depois susto inicial, já me acostumei um pouco. Mas dá primeira vez que vi, foi um choque. O quê? A Mônica cresceu? O Cascão usa cabelo moicano e brinco?? Sim, esta é a Turma da Mônica Jovem. As histórias são em formato de mangá. Ainda não li, e confesso que não sei se vou ter coragem...

Sei que tudo muda e evolui. Esta é a lei básica do Universo.
Mas tem determinadas coisas que a gente não gostaria que mudasse nunca, né?

quinta-feira, setembro 04, 2008

Corra, Loka! Corra!

Nesta semana, dei o primeiro passo para realizar um sonho antigo: fiz a minha inscrição na 84ª Corrida de São Silvestre.
Bom, primeiro, primeiro passo mesmo, realmente não foi... Porque para este tipo de empreitada, o primeiro passo e talvez o mais importante, seja tomar a decisão de fazer... tudo começa, inexoravelmente, no nosso cabeção.
Engraçado pensar que para uma corrida de 15km e milhares de passos, o primeiro deles seja mental, né?

Os mais novos talvez não saibam ou não lembrem, mas houve uma época em que a corrida era realizada à noite, quase perto da virada do ano. Era bem mais festivo...

Esta empreitada está na minha lista de coisas para se fazer pelo menos uma vez na vida. Eu já havia escrito sobre isto no post abaixo (um dos muitos micos que já paguei na vida...).

E você, tem algo ou uma lista de coisas para fazer pelo menos uma vez na vida? Me conta, aí...


Post do Mico

quarta-feira, setembro 03, 2008

O mundo deu sete voltas pelo Sol desde que escrevemos...

O Renato escreveu em 08/09/2001:

Flores
Ontem fomos à feira de flores em Arujá e mais uma vez confirmou-se para mim o fascínio que as flores exercem nas pessoas.
É difícil, às vezes, desvendar a beleza numa obra de arte, mas com as flores não tem erro: pessoas de todas as idades se encantam sempre. Neste ponto, a natureza ainda tem muito a ensinar...


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Interessante que meu chefe comentou que havia ido nesta feira no final de semana passado... também voltou de lá deslumbrado. Parece que certas coisas não mudam...


Eu escrevi em 12/09/2001:

A Teoria do Coreano (ou A Maldição do Coreano)
Tempos atrás, estávamos fazendo a tradicional caminhada pós-almoço aqui em Down Town, quando me deparei com uma máscara em latex do Yoda (o mestre do Luke, no Star Wars) em uma loja de alguma das inúmeras galerias aqui do Centro. Eu gosto de Star Wars, o R3x também, mas o interesse na máscara era em presentear um amigo nosso, o Winny, que é realmente um grande fã da série. Essa máscara estava exposta na vitrine e sempre que passávamos por lá eu a via e pensava: “Pô, podia comprar essa máscara para o Winny...”.

Um dia, quando olhei, a máscara não estava mais lá, então resolvi entrar para perguntar:
- Há um tempo atrás havia uma máscara do Yoda aqui na vitrine – disse eu.
- Máscara de quem? Respondeu um senhor coreano com forte sotaque.
- Do Yoda, um ET esverdeado, careca e orelhudo.
- Hum...Deixa procurar.
Nessa altura, tinha certeza que não encontraria mais a bendita. Já estava com aquela sensação de ter perdido alguma coisa muita boa, de ter bobeado. Só que...
-É esta?
Era. Era ela mesmo. Só que vista de perto, tocada e examinada, não era. Não era como eu imaginava. A distância e pela vitrine, era bem mais legal...
-Quanto custa? Perguntei.
-Dez dinheiros – ele disse
Então, vendo minha feição pensativa. Sacando que eu não iria comprar, ele destilou sua teoria (ou maldição, ou praga mesmo):
-Brasileiro é assim: quando não tem, quer comprar e quando tem, não quer.
Levemente ofendido com o jeito que ele disse aquilo e para contrariar suas palavras, disse eu, friamente:
- Vou levar. Aceita cheque?
Então o coreano conseguiu me vender aquela máscara que provavelmente estava encalhada lá há séculos. Ele foi esperto. Usou a milenar técnica coreana de dizer: “Duvido que você compra.” ou: “Você não é homem de comprar essa máscara.”

Desde então, carrego esta sina: uma incrível dificuldade em comprar coisas. Se for sapato ou tênis, esquece, nunca tem meu número para o modelo que eu escolho. Se for gravata, funciona assim: se eu estiver passando despretenciosamente por uma loja e reparar em uma gravata legal, tenho que comprá-la nesse instante, porque se eu voltar para procurar depois, não vou encontrá-la mais.

De qualquer forma, o fato é: por mais difícil que seja admitir, o coreano tinha lá sua razão... Enquanto sabemos que algo está lá a nossa disposição, não damos muita bola, mas quando desaparece, temos aquela sensação ruim de aquilo era a melhor coisa do mundo e que agora... nunca mais.

Mas fazer o quê, brasileiro é assim mesmo....
Ps: Cuidado, essa mensagem é contagiosa. Se coisas deste tipo começarem a acontecer com você, pode xingar o tiozinho coreano.


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Hoje em dia, essas coisas ainda rolam comigo... mas quando acontece, eu já falo logo: "Deixa, deixa, eu nem queria mesmo..."

terça-feira, setembro 02, 2008

O Tempo

A amiga Lúgela escreveu em seu recém-lançado blog sobre o paradoxo do tempo.
Simplesmente por este motivo, voltei aqui e percebi que o último post foi colocado pelo R3x há um ano...

Fora o fato de não ter postado mais, confesso que praticamente não leio mas blogs... não sei dizer ao certo o porquê.

Olhando aqui para este blog de layout antiguinho, me surpreendi com o fato dele estar no ar desde 2001... é muito tempo.
Aqui, já escrevemos pequenas novelas, comentamos sobre causos e coisas que publicam na Web, já escrevemos sobre a infância, os amigos e os filhos...
Realmente não sei que motivos teria para voltar a postar aqui, mas por outro lado eu penso: Caracas! Desde 2001 esse negócio tá no ar...

Bom, outros amigos apareceram... e talvez seja bacana dividirmos aqui algumas coisas.

Vamos ver... mas só o tempo dirá.